Insatisfação popular contra governo se alastra em Israel e abrange setores até então considerados apolíticos, como militares e juízes. Primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, durante encontro com ministro na Itália, em Roma, em 10 de março de 2023
Remo Casilli/REUTERS
Com tantas frentes de batalhas abertas ao mesmo tempo em Israel, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu achou por bem sair do país nesta quinta-feira (9) e viajar a Roma para encontrar sua homóloga de extrema-direita, Giorgia Meloni. Para se deslocar ao aeroporto, ele precisou pegar um helicóptero, já que milhares de manifestantes bloqueavam o acesso em ruas e estradas.
Antes de deixar o país em convulsão, o premiê se reuniu, por uma hora, numa área reservada do aeroporto, com o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, que também não tinha como se deslocar a Israel. O governo penou para encontrar uma tripulação da El-Al que levasse o premiê e sua comitiva, assim como uma tradutora que aceitasse a tarefa.
Ainda em solo israelense, Netanyahu acusou a oposição de mergulhar Israel na anarquia por se recusar a negociar a sua reforma judicial que visa a enfraquecer a Suprema Corte, para dar mais poderes à coalizão de extrema direita que conduz o país.
Policiais tentam controlar onda de manifestantes do “dia da resistência” em Tel Aviv, Israel em 9 de março de 2023
Ronen Zvulun/REUTERS
Israel vive há nove semanas uma onda de protestos sem precedentes contra o governo, que o premiê teima em minimizar com uma palavra: anarquia. A insatisfação reúne setores até agora considerados apolíticos — representantes do Judiciário, de órgãos de inteligência e das Forças Armadas.
A resistência cresce entre os reservistas – que compõem boa parcela da população israelense e ameaçam não servir nesse novo modelo de Estado idealizado por Netanyahu. Um deles é o coronel Gilad Peled, prestigiado piloto de combate da Força Aérea, que foi suspenso de suas funções e automaticamente alçado ao posto de herói.
A insatisfação entre os israelenses se soma à escalada da violência na Cisjordânia, incitada por integrantes fundamentalistas da coalizão arquitetada por Netanyahu. O premiê já estava em Roma, quando um atirador atacou um café no centro de Tel Aviv, ferindo três pessoas. O Hamas reivindicou o atentado.
Ataque a tiros do Hamas deixa 3 feridos em Israel
Ainda há outros registros importantes desse dia de fúria, que servem para adicionar combustível ao caldeirão em chamas. O controverso ministro de Segurança, Itamar Ben-Gvir, demitiu o chefe de Polícia de Tel Aviv por considerá-lo tolerante com os manifestantes que saíram às ruas. A decisão foi suspensa pela procuradora-geral, Gali Baharv-Miara. Sim, porque as instituições que o premiê pretende desmantelar, ainda estão atuantes.
Num duro discurso à nação, o presidente Isaac Herzog considerou inaceitável o plano de reformar o Judiciário, por ser “errada e predatória”, e pregou a sua substituição.
A esta altura, Netanyahu já estava em Roma, onde se encontrará nesta sexta-feira com a premiê Giorgia Meloni, cujo partido Irmãos de Itália vestiu a roupa do neofascismo e pôs o país na trilha da extrema direita. Pressionado em casa, ele procura uma distração fantasiosa que o desvie de múltiplas crises domésticas. Ela, por sua vez, tira proveito da visita, para fortalecer a imagem de estadista e marcar distância do antissemitismo que caracteriza integrantes de seu partido.
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