Presidente dos EUA terá dificuldade para avançar a agenda de governo e deve virar alvo de investigações. Biden comenta a eleição de meio de mandato na Casa Branca, nesta quarta (9)
Reuters/Tom Brenner
Na segunda metade do mandato, Joe Biden sairá de sua zona de conforto, que lhe dava a maioria partidária nas duas casas legislativas, para amargar o impasse legislativo. Com o Congresso dos EUA dividido – a Câmara controlada pelos republicanos e o Senado pelos democratas – o presidente precisará mais da caneta para assinar ordens executivas e lançar mão de seu poder de veto.
Embora em menor vantagem do que o esperado, a bancada republicana na Câmara tem potencial para dificultar a agenda de governo da Casa Branca, tumultuar a vida de seu ocupante e o caminho para as eleições de 2024. O partido deve ganhar entre 218 e 223 cadeiras – em torno de seis a mais do que a minoria democrata.
A reconquista republicana da Câmara, após quatro anos, promete reaquecer temas espinhosos para Biden, acalentados pela sede de vingança por parte de sua ala mais extremista. A maioria dá ao partido o poder de intimação e o controle de comitês importantes.
Num déjà-vu às avessas, a bancada republicana poderá apresentar impeachments contra Biden, sua vice Kamala Harris e outros membros do Executivo, em desgastantes processos que certamente vão empacar no Senado.
Demonizar Biden significa também livrar Trump e desviar a atenção das acusações de ter incitado seus partidários a invadir o Capitólio. O ex-presidente é alvo da comissão da Câmara que investiga a sua participação no motim para tentar impedir a vitória de Biden. A bancada republicana tem o poder de extinguir o comitê e arquivar as denúncias, apesar do barulho que provocaram em nove audiências públicas.
Nesse novo balanço do poder legislativo, a partir de janeiro, as prioridades se inverterão, mas não com a folga que os republicanos desejavam. O atual presidente estará na mira de seus adversários e poderá ser investigado pela retirada desastrosa do Afeganistão ou por ter agido em benefício do filho Hunter em seus negócios na Ucrânia, conforme prometeu parte de seus adversários durante a campanha.
Aliás, a ajuda vultosa dos EUA ao país invadido por Putin – cerca de U$ 66 bilhões desde fevereiro – deverá ser questionada. A ala radical do Partido Republicano é cética e acusa Biden de priorizar armar a Ucrânia em detrimento de reforçar as fronteiras com o México para deter a imigração.
Na agenda doméstica a proteção ao aborto, as prioridades orçamentárias e o endividamento do governo esbarrarão nos limites ditados pela oposição republicana. As regras são claras: quem controla a Câmara tem também o poder de decidir os projetos que avançam e os que cairão no esquecimento.
Os eleitores escolheram não transformar Biden no presidente pato manco que as pesquisas de opinião previram. Com o Congresso dividido e cada uma das duas câmaras controladas com margens pequenas, caberá ao presidente a defesa das conquistas da primeira metade de seu mandato. Na atual circunstância, as profundas divisões internas nas duas legendas tornam mais raros o consenso e os acordos bipartidários.
Foto da Câmara dos EUA, no Capitólio, em Washington, na madrugada de terça-feira, 8 de novembro de 2022
J. Scott Applewhite/AP
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