Praticante de base jump, uma modalidade de esporte radical, Henrique Campos deixou pousada sozinho para fazer trilha considerada de alto risco. Um brasileiro de 35 anos que desapareceu nos Alpes suíços no fim de setembro não pôde ser encontrado até o momento e está sendo dado como morto.
Henrique Cortez Pires de Campos passava férias no país desde o começo de setembro e sumiu na região de Lauterbrunnen, vilarejo no cantão de Berna conhecido por receber praticantes de esportes radicais.
O esportista desapareceu após sair sozinho para fazer uma trilha conhecida por ser de alto risco, que envolve a travessia de fendas sobre geleiras.
Ele informou à pousada onde estava hospedado que iria passar duas noites fora para fazer uma rota a pé em direção a um dos picos mais populares entre praticantes de base jump — na região, há uma formação rochosa apelidada de “o buraco”.
Henrique foi visto com vida pela última vez por dois alpinistas na trilha em direção à cabana “Rottal-Hütte” no dia 22 de setembro.
O paulista era praticante de base jump, modalidade que consiste em pular de grandes alturas com um traje especial, que permite planar no ar.
O salto pode ser de prédios, antenas, pontes, montanhas ou penhascos e exige do esportista destreza para saber o momento e posição certa para pular, considerando riscos como a velocidade do vento e obstáculos no caminho.
Considerado praticante experiente do esporte, o brasileiro estava em boa forma física e se sentia à vontade em situações de perigo.
Familiares que conversaram com a BBC News Brasil disseram acreditar firmemente que ele ainda viria a ser encontrado com vida, pois estava acostumado a desafios em condições inóspitas. Henrique é engenheiro naval e trabalhava embarcado nas plataformas de petróleo da Petrobras em alto-mar.
O esportista já havia visitado o vilarejo de Lauterbrunnen outras vezes. A área, que é apelidada de “Vale da Morte”, é um local onde muitos atletas já perderam a vida inesperadamente. Entre 2000 e 2021, mais de 60 pessoas morreram praticando base jump na região, segundo dados do site swissinfo.ch.
Parentes de Henrique chegaram a viajar à Suíça para acompanhar as buscas, que se estenderam por vários dias, mas terminaram infrutíferas.
O mau tempo não ajudou, fazendo com que os esforços de resgate fossem atrasados por causa da neve.
Amigos do mundo todo se mobilizaram através de uma vaquinha virtual, levantando praticamente 150 mil reais para ajudar à família.
Sem encontrar Henri, porém, o pai e o irmão deixaram o país alpino na segunda semana de outubro, após cederem amostras dos seus códigos genéticos para as autoridades suíças.
Caso a polícia venha a encontrar algum corpo no futuro, o DNA dos familiares será utilizado na identificação. As investigações estão suspensas, pendentes até a descoberta de novos indícios.
A proprietária do estabelecimento onde ele se hospedou disse à BBC News Brasil que se recorda de outras visitas.
“Sim, ele já esteve hospedado conosco antes umas três ou quatro vezes” afirmou Elsbeth von Allmen-Müller, da pousada Gästehaus im Rohr.
“Recebemos bastante brasileiros e gostamos muito deles, as turmas de viajantes costumam vir no verão [do Hemisfério Norte], em julho e agosto”.
De acordo com ela, o brasileiro já havia passado pela pousada nesta temporada e era conhecido e querido por outros praticantes do base jump.
A Suíça é muito popular entre os esportistas que gostam de saltar de penhascos e montanhas por conta dos inúmeros picos rochosos dos Alpes.
A formação rochosa famosa à qual Henrique se dirigia quando desapareceu é considerada perigosíssima. O desafio dela é saltar de um pico mais alto e, planando com destreza, atravessar durante o voo a estreita fenda entre duas rochas.
“Ele me prometeu que não iria tentar pular, disse que queria apenas caminhar até lá para ver como era”, contou Elsbeth. Segundo ela, o plano de Henrique era sair da pousada e seguir por uma longa trilha que levava do vilarejo à formação rochosa.
Buscas
Estima-se que ele deixou a pousada na quarta-feira (21/09) por volta das 7h da manhã. No caminho ele pernoitaria em chalés rústicos mais próximos ao topo. Deveria estar de volta depois de duas noites
Na véspera da partida, na terça-feira à noite, ele chegou a comprar mantimentos para a caminhada no mercadinho local, conforme revelam registros do cartão de crédito.
A família obteve em juízo o direto a quebra de sigilo do celular do brasileiro para saber a última localização dele, mas a informação não foi útil para avançar nas investigações.
“Ele disse que voltaria na sexta-feira, mas como não apareceu, ficamos preocupados e alertamos as autoridades locais”, conta Elsbeth.
Buscas começaram a ser feitas em solo na sexta-feira, dia 23 de setembro. No dia seguinte, foram realizados voos sobre a região da trilha na montanha de Stechelberg. As buscas por terra, porém, não puderam ser completadas efetivamente, porque parte do trajeto é sobre uma geleira e só pode ser atravessado com bom tempo.
Por e-mail, a polícia do cantão de Berna, onde fica Lauterbrunnen, informou à BBC News Brasil que realmente não foram encontrados vestígios que servissem de pistas concretas sobre o paradeiro dele.
A BBC foi informada da conclusão das buscas por meio de um breve comunicado emitido por WhatsApp pelo pai de Henrique, no domingo, 11 de outubro.
“Buscas encerradas. Não há mais nada a fazer. Creio que nosso Henri escolheu a montanha para descansar”.
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