Ao que tudo indica, Biden deve enfrentar uma onda republicana no Congresso e ver sua margem de manobra reduzida até 2024, quando se inicia a campanha para a eleição presidencial. Quem deve ganhar a eleição dos EUA? Marcelo Lins explica votação de meio de mandato no país
Os americanos votam nesta terça-feira (8) para renovar a Câmara de Representantes e parte do Senado. Os resultados determinarão o nível do poder do presidente Joe Biden, democrata, bem como o futuro do líder republicano, Donald Trump. Pesquisas não apontam cenários favoráveis ao atual governo.
Ao que tudo indica, Biden deve enfrentar uma onda republicana no Congresso e ver sua margem de manobra reduzida até 2024, quando se inicia a campanha para a eleição presidencial. Atualmente, os democratas dispõem de 222 assentos dos 435 na Câmara de Representantes, contra 213 para os republicanos. No entanto, ao que parece, uma reviravolta deve ocorrer.
A oposição tem grandes chances de obter ao menos de 10 a 25 assentos. Segundo o site de pesquisas e estatísticas FiveThirtyEight, os republicanos têm 84% de chance de tornar majoritários na Câmara de Representantes.
No Senado, os republicanos também parecem garantir vantagem. Atualmente, a câmara alta é dividida entre um grupo de 50 democratas e independentes e 50 conservadores. Em caso de empate no Senado, cabe à vice-presidente Kamala Harris dar a palavra final.
A votação desta terça-feira permitirá renovar 35 assentos no Senado: 21 atualmente ocupados por republicanos e 14 por democratas. Segundo o FiveThirtyEight, os republicanos têm 59% de chances de obter a maioria, um avanço obtido nas últimas semanas. No último 18 de outubro, três semanas antes da eleição, os democratas ainda contavam com uma vantagem de 63% para conservar a situação atual.
EUA: Mulher vota durante a votação eleições de meio de mandato (midterm elections) em Las Cruces, no Novo México
REUTERS/Paul Ratje/File Photo
Desconfiança e polarização
Segundo o canal de TV NBC, cerca de 40 milhões já votaram antecipadamente. Outros milhões de eleitores se dirigem às urnas nesta terça-feira, sem esconder a tensão que representa essa votação.
“Notei que certos candidatos que se apresentaram recentemente escolheram calúnias, campanhas negacionistas, etc. Não quero que essas pessoas me representem na alta cúpula do governo”, diz o engenheiro Quonn Bernard, de 39 anos, em Union City, perto de Atlanta, na Geórgia.
“Vim aqui para votar porque muitos de meus ancestrais, sejam eles negros ou mulheres, não tiveram o direito de fazer o mesmo”, explica Kuanna Harris, uma advogada de 26 anos que chegou cedo para votar nesta cidade povoada por afroamericanos.
Em Phoenix, no Arizona, um dos locais de voto, instalado em uma biblioteca no centro da cidade, teve problemas na manhã desta terça-feira no momento da impressão dos boletins. Apenas os eleitores que chegaram com seu envelope preparado puderam depositá-lo. Os outros votantes foram enviados a um outro local de voto, a cerca de 500 metros de distância.
O pequeno incidente já foi suficiente para incitar a desconfiança entre alguns cidadãos neste Estado, onde a vitória de Biden em 2020 continua sendo contestada por candidatos republicanos, apesar das diversas auditorias e recontagens que valideram os resultados. “Esta máquina deveria ter sido testada há muito tempo!”, reclamou Donald Newton, um eleitor conservador na faixa dos 80 anos.
Outros parecem não se incomodar com os imprevistos. Apesar dos problemas técnicos, o estudante de Direito Kenneth Bellows, de 32 anos, acredita que esse será “um dia normal de voto”. Decepcionado com a gestão econômica de Biden, ele declarou seu voto aos republicanos, lembrando que os Estados Unidos enfrentam a pior inflação em 40 anos sem que a atual administração tenha apresentado boas soluções, em sua opinião.
Em McAllen, cidade do Texas na fronteira com o México, Enrique Ayala, um aposentado de 64 anos diz esperar que “todos se mostrem civilizados e que ambas as partes aceitem os resultados”.
Retórica extremista
No Museu de Pittsburgh, cidade industrial do Estado da Pensilvânia, onde a disputa para o Senado é considerada crucial, uma fila de espera se formou desde às 7h. O médico Robin Girdhar, de 61 anos, afirma que chegou cedo para “garantir seu voto”. Evocando a forte polarização da sociedade, além da desinformação, ele se diz preocupado: “a retórica dos dois lados me parece extremista”, diz, sem esconder seu voto aos democratas.
Ao sair do local de votação, a enfermeira Mona Sablan, de 56 anos, afirma ter dado preferência ao Partido Democrata, com a esperança que seja mantido no Estado o direito ao aborto. Mesma postura por parte da advogada Alexandra Ashley, de 30 anos: “o direito ao aborto é provavelmente a questão mais importante para mim”.
Outra eleitora democrata, que prefere não se identificar, denuncia a tentativa de alguns políticos de “enfraquecer a democracia”. “Não podemos permitir que isso ocorra”, defende.
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