Na primeira fase do Enem 2023, neste domingo (5), os 3,9 milhões de candidatos inscritos terão que fazer uma redação dissertativa-argumentativa de até 30 linhas
Ter calma, ler de novo o que escreveu: essas são algumas das dicas de especialistas para que os candidatos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) façam uma boa redação.
No próximo domingo (5), os 3,9 milhões de inscritos terão que fazer uma redação dissertativa-argumentativa de até 30 linhas, além de responder questões objetivas de linguagens e de ciências humanas.
A CNN consultou a Cartilha do participante do Enem e especialistas para elencar seis sugestões de como lidar com a prova de redação.
- Comece pela redação
A dica é da coordenadora de Redação do sistema de ensino Poliedro, Gabrielle Cavalin, que explica: “É importante garantir uma boa nota e iniciar a produção enquanto está mais descansado.”
A professora ressalta que escrever a redação exige “capacidade de reflexão e pensamento do candidato”, por isso é importante que ela não fique para o final.
- Mantenha a calma caso não conheça o tema
Os temas de redação do Enem costumam ser questões relacionadas à vida cidadã, com ênfase em problemas sociais do Brasil. Caso o participante se depare com um tema sobre o qual não estudou ou não tem muito repertório, é importante manter a calma.
“Sempre aconselho aos alunos que, se eles estão em sala de aula, estudando atualidades, lendo notícias e se dedicando ao estudo, e mesmo assim se deparam com um tema desconhecido, isso diz muito sobre o tema. Significa que o tema é um problema social, pois não é amplamente discutido, mencionado ou debatido”, diz Gabrielle Cavalin.
Ela acrescenta: “A falta de conhecimento sobre o tema também pode ser usada como argumentação, destacando o quanto o Estado e as instituições sociais falham em comunicar a existência desse problema ou os meios de erradicá-lo.”
- Conheça a estrutura da redação do Enem
Segundo a Cartilha, o participante deve produzir um texto em prosa, do tipo dissertativo-argumentativo, sobre o tema da prova. Nesse texto, é preciso defender um ponto de vista – ou seja, uma tese – e justificar se ponto de vista através de argumentos consistentes e estruturados.
No final do texto, o participante também deve elaborar uma proposta de intervenção social para o problema apresentado que respeite os direitos humanos.
A coordenadora de Redação do sistema de ensino Poliedro, Gabrielle Cavalin, disse à CNN: “É de extrema importância que o candidato formule uma tese clara no final do primeiro parágrafo. Isso permitirá ao corretor compreender com clareza o enfoque do texto que será desenvolvido ao longo da argumentação.”
Segundo o Inep, o texto deve estar estruturado da seguinte forma:
apresentação clara do ponto de vista – da tese que será defendida;
argumentos que justifiquem o ponto de vista defendido para o leitor, de modo que cada parágrafo traga informações, por meio de exemplos, dados, ou citações, que sejam coerentes com a tese apresentada anteriormente, sem repetições desnecessárias ou mudanças abruptas de assunto;
apresentação da proposta de intervenção para o problema abordado.
- Não esqueça da proposta de intervenção
A apresentação de um proposta de intervenção que busque solucionar ou amenizar o problema e que respeite os direitos humanos é obrigatória na redação do Enem.
O Inep propõe que as seguintes questões sejam respondidas ao elaborar a proposta:
Quais são possíveis soluções para o problema?
Quem deve executar essas soluções?
Quais efeitos elas poderiam alcançar?
Vanessa Botasso, coordenadora de Redação do curso pré-vestibular Poliedro de Campinas, ressalta que é importante que exista uma conexão entre os argumentos apresentados pelo candidato e sua proposta de intervenção.
“Por exemplo, se o candidato mencionou que a falta de comunicação por parte do Estado tem levado os pais a desconhecerem o calendário vacinal de seus filhos, a proposta de intervenção deve estar diretamente relacionada a essa questão. A proposta deve visar aprimorar a eficiência do Estado na divulgação do calendário vacinal”, diz Botasso.
- Leia mais uma vez antes de passar a limpo
A professora Gabrielle Cavalin acrescenta que, se houver tempo o suficiente para isso, o aluno não precisa passar a redação a limpo imediatamente depois de terminar o texto.
“Realize algumas questões da prova e retorne depois para a redação. Esse distanciamento da redação é muito importante, pois garante que o candidato possa voltar ao texto e verificar se é necessário melhorar alguma estrutura frasal, se deixou de lado alguma palavra-chave do tema, ou se é possível aprimorar a explicação em relação ao desenvolvimento da causa ou da consequência do problema na argumentação”, diz Cavallin.
- Fique atento para não zerar a redação
Na Cartilha do participante, o Inep lista todas as características que podem fazer uma redação receber a nota zero. Confira:
fuga total ao tema;
não escrever um texto com a estrutura do tipo dissertativo-argumentativo;
textos com até 7 (sete) linhas manuscritas, qualquer que seja o conteúdo, ou textos com até 10 (dez) linhas escritas no sistema braille;
copiar um ou mais textos dre apoio da prova de redação ou do caderno de questões sem que haja pelo menos 8 linhas de produção própria do participante;
desenhos em qualquer parte da folha de redação (incluindo os números das linhas na margem esquerda);
números ou sinais gráficos sem função evidente em qualquer parte do texto ou da folha de redação (incluindo os números das linhas na margem esquerda);
partes deliberadamente desconectadas do tema proposto;
impropérios e outros termos ofensivos, ainda que façam parte do projeto de texto;
assinatura, nome, iniciais, apelido, codinome ou rubrica fora do local devidamente designado na folha para a assinatura do participante;
texto predominante ou integralmente escrito em língua estrangeira;
folha de redação em branco, mesmo que haja texto escrito nas folhas de rascunho;
texto ilegível, que impossibilite sua leitura pelos avaliadores.
Possíveis temas para a redação do Enem 2023
Para as professoras, considerando o contexto atual e os temas que historicamente são escolhidos para a redação do Enem, as principais apostas para este ano são:
Impactos da inteligência artificial
O avanço e a popularização do uso de ferramentas de inteligência artificial (IA) têm suscitado discussões como: será que as IAs podem substituir trabalhadores humanos em algumas áreas? Quais são os limites éticos do uso dessas ferramentas?
Caso esse seja o assunto escolhido, provavelmente os questionamentos não serão amplos, mas sim, direcionados a um problema ou impacto específico do uso dessa tecnologia no dia a dia da sociedade brasileira – problema este para o qual o participante deverá apontar soluções.
Escalada da violência escolar no Brasil
Os ataques em escolas se tornaram mais recorrentes no Brasil nos últimos anos e atingiram o maior patamar da história em 2023. O Enem pode abordar essa temática de modo que o aluno precise apontar quais são os possíveis motivos para o aumento desses episódios e quais medidas tomar para evitá-los.
Combate ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes
O tema pode ser escolhido para que o estudante pense causas e consequências dessa exploração e defina o que pode ser feito para proteger as crianças e os adolescentes de abusos.
O tema pode ser cobrado de forma mais ampla ou pode aparecer com o recorte do abuso infantil na internet.
Mudanças climáticas e o impacto nos direitos humanos
As mudanças climáticas e a degradação ambiental se relacionam diretamente a direitos fundamentais como o acesso à água, à comida, os riscos à saúde causados pela poluição e pela transformação do clima, entre outros.
As fortes chuvas no Sul e Sudeste e a seca no Amazonas são exemplos de como as mudanças climáticas podem afetar os direitos da população. Nesse tema, é possível encaixar a importância da preservação ambiental da Amazonia e o dever do Estado em garantir que o povo tenha acesso a um ambiente limpo, seguro e saudável.
Doação e transplante de órgãos no Brasil
O transplante de coração realizado no apresentador de televisão Faustão colocou em evidência a importância da doação de órgãos. No tema, é possível abordar a resistência das famílias, seja por desconhecimento da lei, ou por acreditar em mitos e notícias falsas sobre o funcionamento da fila única para transplantes vigente no país.
Política unificada para identificar pessoas desaparecidas
Apesar de a Lei da Política Nacional de Busca de Pessoas Desaparecidas ter sido sancionada em 2019, ainda não existe um banco de dados nacional unificado e padronizado, para que seja possível cadastrar as pessoas desaparecidas e acessar essas informações em qualquer estado do país. Além disso, o Brasil enfrenta desafios operacionais para viabilizar a busca por esses indivíduos.
Caso o tema seja cobrado, é mais provável que o recorte aborde os impeditivos para resolução efetiva do problema e não necessariamente as causas de desaparecimentos.
*Com informações da Agência Brasil
Fonte: CNN Brasil