Feito em parceria com Tribunais Estaduais, relatório mostrou que dificuldades não têm relação com a falta de recursos. Em 2018, o Governo Federal pediu financiamento de US$ 250 milhões para a reforma.
No estágio de eletroeletrônica, entre cabos e engenheiros experientes, Guilherme Almeida Barros encontrou uma carreira para seguir e o sentido que faltava nos últimos anos da escola:
“Já no 2º ano que avançou e começou a decair, tanto o interesse dos alunos quanto o interesse dos professores em dar, porque eram matérias que nem eles tinham capacitação para dar aquilo (…) Eu estou tendo aula de trilha e o professor deixa a gente na quadra porque não tem muito o que passar. Não tem estrutura para dar uma trilha na escola”, afirma o estudante de 18 anos, que está no 3º ano e é estagiário em eletroeletrônica.
É uma geração de educadores e alunos que se viram perdidos no meio da mudança do ensino médio.
“Ela causou uma descontinuidade no processo educacional que estava vigente, colocou um novo modelo de educação pros nossos estudantes na qual houve uma ilusão de que esses estudantes poderiam escolher parte do conteúdo que eles iriam estudar, e que na prática não aconteceu isso (…) foi um processo falho e essa geração desses estudantes que estão no 3º ano do Ensino Médio, agora, saem totalmente prejudicados”, diz André Sapano, diretor escolar.
Diante das críticas ao novo modelo em vigor há dois anos, o Ministério da Educação abriu uma consulta pública com representantes de diversas entidades para chegar a uma proposta, enviada ao congresso.
Se até agora não houve coordenação nacional, não foi por falta de recursos. É o que mostra um relatório do Tribunal de Contas da União(TCU) .
Em 2018, o Governo Federal pediu financiamento de US$ 250 milhões para a reforma. Cerca de US$ 29 milhões para contratação de consultorias e assistência técnica na implementação do novo modelo.
“O que tinha previsto no contrato de empréstimo eram 29 milhões para essa parte de assistência técnica e o que a equipe do Tribunal encontrou até o final do ano passado foi uma execução mais baixa. Três milhões tinham sido disponibilizados e, desses 3 milhões que foram disponibilizados, aproximadamente 50% ou um pouco menos é o que tinha sido de fato executado”, afirma Ana Paula da Silva, auditora-chefe e titular da AudEducação (Unidade de Auditoria Especializada em Educação, Cultura, Esporte e Direitos Humanos).
O relatório do Tribunal de Contas também mostrou que, em 20 estados o processo de contratação das consultorias sequer foi finalizado.
O resultado é que o antigo Ensino Médio foi sendo deixado para trás sem que o formato do novo estivesse claro para administradores, coordenadores, professores e alunos.
O tempo é decisivo na educação. Então, não dá para esvaziar as escolas para fazer reformas no sistema. É por isso, também, que os educadores dizem que o mal uso dos recursos públicos direcionados para formação de pessoas não é só uma questão financeira.
“Isso tudo foi um desperdício de uma geração que, além de tudo, também passou pela pandemia no Ensino Médio. Então, é uma geração que perdeu bastante e que agora vai precisar se recuperar de alguma forma. Aqui não é só um desperdício de dinheiro, é um desperdício de vidas, é um desperdício da gestão pública, é um desperdício da gente conseguir fazer uma diferença enorme no país’, explica Priscila Cruz, presidente executiva do Todos Pela Educação.
O Ministério da Educação informou que está empenhado em adotar recomendações do TCU e que trabalha em parceria com o órgão de controle para sanar qualquer possível desconformidade no contrato de empréstimo assinado em 2018.
MEC – Ministério da Educação
Tribunal de Contas da União
Fonte: g1