Em pronunciamento, presidente da Rússia mobilizou 300 mil reservistas e falou em uso de armamentos nucleares: ‘Isto não é um blefe’, disse. Policiais russos detêm homens durante um protesto contra a mobilização de reservistas pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, em 21 de setembro de 2022
Reuters
Mais de mil pessoas foram detidas na Rússia nesta quarta-feira (21) por protestarem contra a mobilização de reservistas feita pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin.
O grupo de monitoramento OVD-Info, uma organização não-governamental de monitoramento que visa reportar situações de perseguição política na Rússia, registrava 1161 pessoas detidas às 15h50 desta quarta.
Mais cedo, em um pronunciamento à nação pela TV, Putin anunciou que prorrogou o contrato de soldados no campo de batalha e convocará cerca de 300 mil cidadãos da reserva para se unirem às tropas russas na Ucrânia.
Esta é a primeira mobilização militar feita pela Rússia desde a Segunda Guerra Mundial.
No discurso, Putin também fez ameaças nucleares ao Ocidente:
“Isto não é um blefe”, declarou o líder russo. “Vários representantes do alto escalão de países da Otan falam da possibilidade e admissibilidade de usar armas de destruição em massa contra a Rússia. Falam até de ameaça nuclear. Quero dizer a quem diz isso que nosso país possui uma variedade de armas de destruição, algumas mais modernas até que as dos países da Otan”.
‘Isso não é um blefe’, diz Vladimir Putin durante pronunciamento
Putin disse já ter assinado o decreto que estabelece a convocação dos reservistas, o que gerou revolta de parte da população e busca por passagens saindo de Moscou.
PASSAGEM SÓ DE IDA: Após Putin convocar reservistas, aumenta procura por voos sem volta na Rússia
O líder russo não deixou claro a partir de quando os reservistas começarão a ser convocados e nem quanto tempo será necessário para convocar todos eles. O que ele deixou claro é que apenas os que já têm alguma experiência militar entram na lista da mobilização.
Ele anunciou ainda ter prorrogado indefinidamente os contratos dos soldados que já estão lutando no país vizinho e o aumento dos gastos com a produção de armamentos.
No pronunciamento, o presidente russo disse também que dará apoio aos referendos de separação da Ucrânia anunciados em regiões como Luhansk, Donetsk, Kherson e Zaporizhzhia, invadidas pela Rússia. As consultas públicas estão previstas para este fim de semana.
O discurso ameaçador de Putin preocupou o Ocidente (veja mais abaixo) e foi feito em um momento no qual a Ucrânia faz uma forte e veloz operação de contraofensiva, com o apoio logístico dos países europeus e dos Estados Unidos.
Policiais russos detêm um homem durante um protesto de rua contra a mobilização de reservistas ordenados pelo presidente da Rússia Vladimir Putin
Reuters
Reações
Países reagem a discurso de Putin de iniciar mobilização militar contra a Ucrânia
Já fora do país, o discurso de Putin gerou reações imediatas de governantes da Europa.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou que não acredita que a Rússia usará armas nucleares. “Não acho que essas armas serão usadas. Não acho que o mundo deixará isso acontecer”, afirmou o chefe de Estado ucraniano em uma entrevista ao canal alemão Bild TV.
Putin “quer afogar a Ucrânia em sangue, incluindo o de seus próprios soldados”, afirmou Zelensky, referindo-se à mobilização decretada pelo presidente russo. “Ele precisa de um exército de vários milhões de pessoas contra nós, porque vê que grande parte dos que chegam fogem”, afirmou.
O líder ucraniano ainda disse que os russos mobilizaram cadetes, “meninos que não sabiam lutar, que não conseguiram nem terminar o treinamento”.
Zelensky durante visita a Isium, no nordeste Ucrânia
Assessoria da presidência/via REUTERS
Em seu discurso na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) desta quarta-feira (21), o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que ninguém ameaçou a Rússia, e que a guerra na Ucrânia é “uma guerra de um homem só”.
Apesar de mostrarem certa preocupação com o tom ameaçador de Putin, representantes de países como Alemanha e Reino Unido avaliaram que as novas ações anunciadas pelo líder russo são sinal de que Moscou está perdendo a guerra na Ucrânia.
O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, chamou as palavras de Putin de “retórica perigosa e imprudente”.
“Vamos garantir que não haja mal-entendidos em Moscou sobre exatamente como vamos reagir. Claro que depende do tipo de situação ou de que tipo ou armas eles podem usar. O mais importante é evitar que isso aconteça, e é por isso que estamos sendo muito claros em nossas comunicações com a Rússia sobre as consequências sem precedentes desse ataque”, declarou Stoltenberg.
Secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, durante evento em 16 de junho de 2022
Yves Herman/REUTERS
Até o Papa Francisco, em audiência semanal no Vaticano, falou sobre a ameaça travada por Putin.
“É uma loucura pensar em usar armas nucleares neste momento”, declarou o Papa durante sua audiência semanal no Vaticano.
Já o porta-voz da União Europeia falou de uma “aposta nuclear muito perigosa” feita por Putin, e a ministra de Relações Exteriores do Reino Unido, Gillian Keegan, disse que o discurso é uma “escalada preocupante”.
Voos só de ida
Poucas horas após o anúncio de Putin, sites de busca de voos registraram o aumento fora da curva de passagens apenas de ida saindo da Rússia, que começaram a esgotar.
Os voos diretos de Moscou para Istambul na Turquia e Yerevan na Armênia, ambos destinos que permitem a entrada de russos sem visto, estavam esgotados nesta quarta-feira (21), segundo dados do site Aviasales.
Algumas rotas com escalas, incluindo as de Moscou a Tbilisi, também não estavam disponíveis, enquanto os voos mais baratos da capital para Dubai custavam mais de 300.000 rublos (R$ 25 mil) – cerca de cinco vezes o salário médio mensal.
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