O governo pediu para seus apoiadores irem às ruas e defender o uso do véu. País vive onda de manifestações contra a polícia dos costumes e o uso obrigatório do véu. Iranianos que apoiam o regime vão as ruas para protestar a favor do véu
Depois de dias de protestos no Irã contra a polícia dos costumes e contra a obrigatoriedade do uso do véu, nesta sexta-feira (23) houve manifestações a favor do regime em diversas cidades do país.
Os atos públicos desta sexta-feira foram convocados pelas autoridades para defender o uso do véu.
Iranianas em manifesto a favor do regime em Teerã, em 23 de setembro de 2022
Majid Asgaripour/Wana/Reuters
O conselho encarregado de organizar as manifestações pró-véu feira classificou os manifestantes que têm ido às ruas nos últimos dias como mercenários, acusando-os de insultar o Corão e o profeta Maomé, além de terem queimado mesquitas e a bandeira do Irã, informou a Irna.
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Majid Asgaripour/Wana/Reuters
Morte de jovem por causa do véu
A onda de manifestações foi desencadeada pela morte de Mahsa Amini, uma jovem que foi presa pela polícia dos costumes por não estar usando o véu como as autoridades consideram correto.
Amini foi declarada morta em 16 de setembro, três dias após ser detida em Teerã pela polícia. Segundo as ONGs, a mulher, cujo nome em curdo é Jhina, teria sofrido uma pancada fatal na cabeça, declaração negada pelas autoridades, que anunciaram uma investigação.
A notícia da morte provocou uma indignação generalizada nas principais cidades do país. Os protestos se espalharam pelos principais centros urbanos do Irã.
Algumas manifestantes removeram o hijab em desafio e o queimaram ou cortaram simbolicamente o cabelo diante da multidão que as aplaudia, de acordo com imagens publicadas nas redes sociais.
Protestos Irã
Reuters
As forças de segurança responderam atirando na multidão com balas de borracha e balas de metal, gás lacrimogêneo e canhões de água, segundo a Anistia Internacional e outras ONGs.
O acesso à Internet foi restrito em um padrão de “interrupções no estilo de toque de recolher”, de acordo com a NetBlocks.
Instagram e WhatsApp, bloqueados desde quarta-feira, ainda estavam inacessíveis nesta sexta.
Mortos nos protestos: 17 ou 50?
Segundo os dados oficiais divulgados até quinta-feira, os protestos deixaram ao menos 17 mortos, entre eles cinco membros do serviço de segurança.
A Iran Human Rights (IHR), uma ONG com sede em Oslo, afirma esse número é mais alto, chegando a 50 mortos, de acordo com o último balanço divulgado na sexta-feira. Esta ONG informou que houve protestos em cerca de 80 localidades na última semana.
De acordo com o grupo de direitos humanos curdo Hengaw, as forças de segurança dispararam armas contra manifestantes durante confrontos noturnos na cidade de Oshnavih, no norte do país.
Na cidade de Babol, os manifestantes incendiaram um grande outdoor com a imagem do líder supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, de acordo com vídeos compartilhados online que não puderam ser verificados de forma independente.
Manifestação a favor do governo do Irã em Teerã, em 23 de setembro de 2022
Majid Asgaripour/Wana/Reuters
Sanções dos EUA
O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos divulgou nesta sexta-feira orientações para expandir a gama de serviços de Internet disponíveis para os iranianos, apesar das sanções dos EUA ao país, em meio a protestos em todo o Irã após a morte de uma mulher de 22 anos que estava sob custódia policial.
Autoridades disseram que a medida ajudaria os iranianos a acessar ferramentas que podem ser usadas para contornar a vigilância e a censura do Estado, mas não impediria totalmente o governo Teerã de usar ferramentas de comunicação para reprimir a dissidência, como fez ao cortar o acesso à Internet para a maioria dos cidadãos na quarta-feira.
“Enquanto iranianos corajosos saem às ruas para protestar contra a morte de Mahsa Amini, os Estados Unidos estão redobrando seu apoio ao livre fluxo de informações ao povo iraniano”, disse o vice-secretário do Tesouro Wally Adeyemo.
“Com essas mudanças, estamos ajudando o povo iraniano a estar mais bem equipado para combater os esforços do governo de vigiá-los e censurá-los”.
Adeyemo acrescentou que Washington continuará a emitir orientações nas próximas semanas.
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