A depender dos resultados, quadra da política brasileira deverá ganhar novos contornos
As eleições municipais de São Paulo são muito mais um primeiro turno das eleições presidenciais de 2026 do que um terceiro turno das eleições de 2022.
Evidente que a polarização política entre lulismo e bolsonarismo estarão presentes, ou, para ficar no termo da moda do livro “Biografia do Abismo”, a “calcificação” das bolhas dos dois campos políticos estará mais do que presente.
Mas é possível prever que, a depender dos resultados, esse status quo da atual quadra da política brasileira deverá ganhar novos contornos.
Vamos a eles:
A eventual vitória de Guilherme Boulos (PSOL) fará ascender à política brasileira um sucessor natural para comandar o lulismo com todas as consequências que isso terá dentro do PT e em especial da frente ampla eleita em 2022.
Alguém lembrará que esse posto é de Fernando Haddad (PT) e estará certo. Desde que foi eleito prefeito de São Paulo, em 2012, ele ostenta esse posto. Mas nunca teve concorrente e o pós-Lula hoje está muito mais próximo do que há 12 anos.
Se Boulos vencer, portanto, terá alguém à altura e muito mais parecido na retórica e nas ideias com Lula do que o próprio Haddad.
Não à toa, setores do PT falam em uma eventual filiação de Boulos ao partido no caso de vitória e dizem, sem constrangimento, que a aliança deste ano é entre PT e Boulos — e não entre PT e PSOL.
O fator Ricardo Nunes
É aí que entra o fator Ricardo Nunes. Se Lula foi o arquiteto da frente ampla em 2022, é Ricardo Nunes o construtor da frente ampla de 2024. Basta contar.
A chapa de Boulos deve ter PT, PSOL, Rede, PV e PDT. A de Nunes deve ter o dobro: MDB, Republicanos, Solidariedade, Avante, PL, PSD, PP, PSDB e Cidadania.
Desses, quatro têm assento na Esplanada dos Ministérios, com oito pastas. São partidos que costumam estar na base aliada de qualquer governante, seja ele quem for, esteja ele em São Paulo ou em Brasília, mas que têm muito faro político.
Se optaram por apoiar Nunes é porque o consideram competitivo. E se Nunes ganhar e expor a fragilidade política de Lula, será essa turma a primeira a ameaçar uma debandada nas eleições de 2026.
Além disso, Nunes não é nem nunca foi um bolsonarista-raiz, mas o ex-presidente e o principal nome da oposição em um cargo relevante do país — o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) — estão ao seu lado.
O que significa que, da mesma forma que a vitória de Boulos fortalecerá Lula, a vitória da oposição impulsionará o campo oposicionista rumo a 2026, em um contexto em que, hoje, passados 15 meses da derrota de Bolsonaro, o cenário é o mesmo.
Lula não perdeu eleitores, segundo as pesquisas, mas também não ganhou. E qualquer erro — ou derrota, como em São Paulo — pode pôr em risco a reeleição do atual projeto político que comanda o país.
Importante pontuar o papel de Tabata Amaral, a terceira via posta no tabuleiro em São Paulo.
Seu potencial e as marcas com que pretende trabalhar — mulher, jovem, talentosa, crítica e propositiva — mostrarão até que ponto o eleitor se cansou da polarização e começará a abrir espaço para a renovação da política brasileira.
Sua principal estratégia nessa largada será se tornar conhecida e enfrentar a polarização entre Nunes/Bolsonaro e Boulos/Lula. O seu desempenho mostrará até que ponto estaremos mais distantes de 2022 ou mais próximos de 2026.
Fonte: CNN Brasil