Algumas promessas de campanhas e seu discuso contrário ao bloco aumentam apreensão. Giorgia Meloni, candidata a premiê da Itália, durante evento em 22 de setembro de 2022
Yara Nardi/REUTERS
Uma provável vitória da candidata de extrema-direita italiana, Giorgia Meloni, nas eleições legislativas deste domingo (25) preocupa os mercados e membros da União Europeia, que temem seu discurso contrário ao bloco e que a enorme dívida pública do país dispare.
Apesar de Meloni ter manifestado o desejo de romper com um passado pesado e de suprimir seu sonho de ver a Itália fora da União Europeia, as preocupações persistem, especialmente porque nos últimos dias de campanha ela reiterou seu apoio ao regime húngaro liderado pelo ultranacionalista Viktor Orban.
Quem é Giorgia Meloni
Giorgia Meloni agora afirma ser a favor da União Europeia e mudou seu tom agressivo contra a instituição durante os comícios eleitorais.
“A festa acabou”, disse em meados de setembro em Milão, alertando que, se vencer, “defenderá os interesses nacionais” contra as diretrizes de Bruxelas, assim como “os outros fazem”.
Plano de recuperação
Giorgia Meloni durante entrevista com jornalistas em Nápoles
Andreas SOLARO / AFP
Favorita para se tornar a próxima primeira-ministra, “a apaixonada” da direita italiana defende há anos a ideia de que o bloco respeite “a soberania dos Estados-membros” e permita que os próprios decidam sobre a política que afeta diretamente seus cidadãos.
Com este critério, ela quer renegociar o plano de recuperação pós-covid, financiado com quase 200 bilhões de euros pela União Europeia, de modo que leve em consideração o alto custo da energia após o início da guerra da Ucrânia.
Giorgia Meloni durante evento de campanha em Nápoles, na Itália
Andreas SOLARO / AFP
O gasto deste recurso gigantesco depende, no entanto, do cumprimento de uma série de normas e reformas, cuja implementação foi respeitada pelo governo de Mario Draghi e que, com a eventual vitória da coalizão de extrema-direita, parecem corres risco.
“Podemos nos deparar com um sério conflito de ideias na Itália, que é o país que mais se beneficiou do plano de recuperação e da UE”, considera Nicola Nobile, da Oxford Economics.
“Os riscos são muitos. Tudo vai depender de qual versão da Meloni vai liderar o governo: se é a que ataca a Europa, ou a moderada, que pode manter a atual política orçamentária”, disse à AFP.
Descontrole da dívida?
Silvio Berlusconi (centro), Giorgia Meloni (esq.) e Matteo Salvini (dir.) em Roma
Alessandro Bianchi/REUTERS
A Itália está desmoronando sob uma dívida de mais de 2,7 trilhões de euros, cerca de 150% do Produto Interno Bruto (PIB), a mais alta da zona do euro depois da Grécia.
Nesse contexto, a coalizão de direita pede uma “revisão das regras do Pacto de Estabilidade”, suspenso pela crise sanitária. Nele, foi estabelecido um teto de 3% do PIB para o déficit, e de 60%, para a dívida.
Embora seja legítimo modificar alguns critérios considerados obsoletos, “seria politicamente suicida desrespeitar as regras existentes”, comenta Peter Bofinger, professor de economia da Universidade de Wurtzburgo.
“Caso a Itália se desvie do consenso europeu” e não respeite um mínimo de disciplina orçamentária, “nem mesmo o Banco Central Europeu poderá ajudá-la”, afirmou Bofinger.
Promessas caras
Giorgia Meloni em campanha, em 11 de setembro de 2022
Piero Cruciatti/ AFP
As promessas eleitorais da coalizão de extrema-direita, formada pelo Fratelli d’Italia (Irmãos da Itália) de Meloni, pela Liga anti-imigração de Matteo Salvini e pelos conservadores do Forza Italia de Silvio Berlusconi, podem ter um efeito nocivo para as contas públicas.
“Seu programa é muito indefinido, e ela não explica como financiar as medidas”, ressalta Nobile.
Se fossem aplicadas, o déficit público ultrapassaria 6% do PIB nos próximos cinco anos, “levando a alta dívida pública a níveis insustentáveis”, segundo a Oxford Economics.
Giorgia Meloni em evento político em Nápoles
Andreas SOLARO / AFP
A medida mais emblemática é um imposto único para pessoa física. Esse pode variar de 15 a 23% e, se aprovado, deve custar entre 20 bilhões e 58 bilhões de euros, de acordo com o Observatório das Contas Públicas italianas.
Somam-se a isso outros propostas sobre cortes de impostos e medidas de “paz fiscal” (anistias), assim como o aumento da pensão mínima.
Os investidores temem que um governo tão populista termine como o de Silvio Berlusconi, que teve de renunciar em 2011, pressionado pelos mercados e pelo aumento do custo da dívida.
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