Donos de perfis suspensos no Twitter por apologia a ataques em escolas têm conseguido criar novas contas na rede social, segundo monitoramento de pesquisadoras que analisam grupos de extrema direita há mais de dez anos.
O que aconteceu
Há um “efeito migração” dessas contas do Twitter. Ou seja, usuários suspensos por terem feito apologia a violência criam novos perfis.
Em um dos perfis observados, o dono da conta conseguiu voltar pela quarta vez à rede social.
Uma das estratégias é adotar o nome com pequenas diferenças e publicar conteúdos de forma mais sutil. Dessa forma, os donos dos perfis conseguem retornar à plataforma após a punição, segundo o monitoramento.
O que diz a pesquisadora Há contas que estão incessantemente tentando voltar, e não existe um trabalho ativo do Twitter para identificá-las. Não foi criado nenhum filtro, e a gente fica dependente de denunciar para a Polícia Federal, por exemplo.”
O que estamos observando é um efeito de migração. A comunidade não desapareceu simplesmente. E logo podem estar reorganizadas em outro ambiente.”
Tatiana Azevedo Tatiana e Letícia Oliveira têm feito monitoramentos sobre o tema.
Letícia pesquisa o assunto desde 2012 e foi coautora de um relatório entregue ao governo de transição sobre a ligação do extremismo de direita com os ataques em escola.
O que dizem governo e Twitter A reportagem questionou o ministério da Justiça se o pedido de bloqueio é apenas para a conta do usuário ou para suspender o IP (número de identificação de um computador na internet). Entretanto, não houve resposta após quatro dias de tentativas de contato.
O Twitter respondeu ao UOL com um emoji de cocô. Essa tem sido a postura da empresa aos pedidos da imprensa.
Como o governo tem agido O governo Lula anunciou o investimento de R$ 3 bilhões para combater os ataques em escolas. Um dos focos é rastrear e tentar reprimir planejadores e incentivadores na internet.
Na semana passada, o Twitter começou a suspender contas que fazem apologia a ataques em escolas. A ação aconteceu após o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, considerar a suspensão do Twitter no Brasil.
Segundo Dino, foram registrados 756 remoções ou suspensões de perfis em plataformas como Twitter e TikTok, até a última terça-feira (18).
Na portaria publicada na semana passada, o ministério prevê que a Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública) deve “orientar as plataformas” a impedirem a criação de novos perfis a partir do IP que foi detectado alguma atividade ilegal.
Não se sabe, no entanto, se a orientação do governo federal tem sido repassada para as responsáveis pelas redes sociais.
O governo Lula enfrentou um mal-estar com o Twitter após a empresa afirmar que publicações com apologia a massacres em escolas não violavam seus termos de uso.
O que diz a portaria do governo federal
Uma das medidas previstas na portaria é que as redes sociais devem enviar relatório sobre ações tomadas para limitar conteúdos de apologia a violência nas escolas.
O documento prevê também que uma secretaria da pasta crie um banco de dados com conteúdos ilegais para facilitar a identificação de publicação do mesmo tipo. Caso as regras não sejam seguidas, a portaria prevê sanções contra as redes sociais como multa ou suspensão.
O UOL perguntou ao ministério: se alguma empresa foi multada após a portaria; se as redes sociais enviaram o relatório no período das 72 horas; se os perfis bloqueados têm sido enviados pelo governo ou as próprias redes sociais têm feito o trabalho ativo. Nenhum questionamento foi respondido.
Como denunciar
Denúncias podem ser feitas neste canal, criado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública. Todas as denúncias são anônimas e as informações enviadas serão mantidas sob sigilo.
O denunciante precisa preencher um dos dois campos: “Página da Internet” ou “Comentário”. Em seguida, é só clicar em “Denunciar”.
O interessado em fazer a denúncia deverá inserir o maior número de informações possíveis para que se possa analisar corretamente o registro.
O Ministério da Justiça recomenda o preenchimento do campo “Comentário” com as informações relevantes da ocorrência, como o município, Estado, escola da denúncia e mídia social de origem da ocorrência.
Fonte: uol