Mahsa Amini, de 22 anos, entrou em coma e morreu após sua prisão em Teerã na semana passada pela polícia da moral. A morte dela provocou manifestações em Teerã e na província do Curdistão de onde ela veio. Mahsa Amini em imagem sem data
Reprodução/Via Reuters
Cinco pessoas foram mortas na região curda do Irã nesta segunda-feira (19), depois que forças de segurança abriram fogo durante protestos que haviam sido convocados por conta da morte de uma mulher que estava sob custódia, afirmou um grupo de direitos da população curda, no terceiro dia de distúrbios causados por um episódio que gerou fúria por todo o país islâmico.
Mahsa Amini, de 22 anos, entrou em coma e morreu após sua prisão em Teerã na semana passada pela polícia da moral, provocando manifestações em Teerã e na província do Curdistão de onde ela veio.
Duas pessoas foram mortas quando as forças de segurança dispararam contra manifestantes na cidade curda de Saqez, terra natal de Amini, afirmou a organização de direitos humanos Hengaw no Twitter.
Segundo a organização, duas outras pessoas foram mortas na cidade de Divandarreh, por “fogo direto” das forças de segurança, e uma quinta pessoa foi morta em Dehgolan, também na região curda.
A agência de notícias Reuters não conseguiu verificar as informações de forma independente.
Não houve confirmação oficial das mortes. A agência oficial de notícias IRNA disse que havia protestos “limitados” em algumas cidades em sete províncias, e que eles foram dispersados pela polícia.
O canal estatal de televisão disse que manifestantes foram presos, mas rejeitou “algumas afirmações sobre mortes nas redes sociais” mostrando dois jovens feridos que negaram as informações de que teriam sido mortos. Seus nomes eram diferentes dos da publicação da organização Hengaw.
Mahsa Amini no Twitter
A morte da jovem foi condenada em todo o país, com a hashtag persa #MahsaAmini atingindo 2 milhões de menções no Twitter.
A polícia disse que Amini adoeceu enquanto esperava com outras mulheres detidas pela polícia da moral, que aplica regras rígidas impostas desde a revolução islâmica de 1979 do Irã, exigindo que as mulheres cubram os cabelos e usem roupas folgadas em público.
Mas o pai dela disse ao site de notícias pró-reforma Emtedad no domingo que a filha não tinha problemas de saúde. Ele disse que Amini sofreu contusões nas pernas e responsabilizou a polícia por sua morte.
Os protestos tem sido mais intensos na região curda do país, onde as autoridades já reprimiram distúrbios da minoria curda, que tem entre 8 e 10 milhões de pessoas.
Segundo o grupo Hengaw, 75 pessoas ficaram feridas na segunda-feira.
Um vídeo publicado no Twitter pelo grupo mostra manifestantes atirando pedras enquanto um homem diz “há guerra em Divandarreh” e acusa a polícia de atacar.
A agência de notícias Reuters não conseguiu verificar a autenticidade do vídeo.
O observatório de bloqueios da Internet NetBlocks reportou “interrupção quase total da conectividade em Sanandaj” – a capital da província da região curada, ligando o bloqueio aos protestos, de acordo com sua conta no Twitter.
Os Estados Unidos exigiram que a morte de Amini seja responsabilizada.
“A morte de Mahsa Amini após ferimentos obtidos sob custódia por usar um hijab ‘impróprio’ é uma afronta terrível e notória aos direitos humanos”, afirmou um porta-voz da Casa Branca.
A França condenou a prisão “e a violência que causou sua morte”, disse o Ministério das Relações Exteriores, pedindo uma investigação transparente.
Mais cedo, o comandante da polícia da Grande Teerã, Hossein Rahimi, disse que “acusações covardes” foram feitas contra a polícia iraniana, que Amini não sofreu danos físicos e que a polícia “fez tudo” para mantê-la viva.
A polícia exibiu um vídeo mostrando uma mulher identificada como Amini entrando em uma sala e sentando-se ao lado de outras pessoas. Em seguida, avança rapidamente para mostrá-la de pé enquanto conversava com alguém que parecia estar inspecionando parte de sua roupa.
A mulher identificada como Amini levou as mãos à cabeça e desmaiou.
O pai de Amini disse ao Emtedad no domingo que a polícia levou duas horas para transferi-la para o hospital e se ela tivesse chegado antes não teria morrido.
Rahimi disse que não poderia comentar a causa da morte porque se tratava de uma questão médica e não de segurança, acrescentando que a polícia da moral estava “fazendo um trabalho positivo”.
Os infratores da sharia do Irã, ou lei islâmica, enfrentam repreensão pública, multas ou prisão. Mas, nos últimos meses, ativistas pediram às mulheres que retirem os véus, apesar da repressão dos governantes linha-dura ao “comportamento imoral”.
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