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Cólica não é normal: ginecologista conscientiza sobre endometriose

Cólica não é normal: ginecologista conscientiza sobre endometriose

Doença atinge uma a cada dez mulheres brasileiras e cerca de 190 milhões no mundo.“Tive períodos de cólicas insuportáveis. A cada mês eu precisava ir ao hospital, chegava a desmaiar”. “No período menstrual eu parava minha vida social toda, não conseguia estudar, não conseguia fazer nada, só passava quando eu ia para a emergência tomar medicamento na veia”.

Esses são trechos de depoimentos de mulheres diagnosticadas com endometriose. Elas são apenas quatro das mais de 8 milhões de mulheres que sofrem com a doença no Brasil e cerca de 190 milhões no mundo, segundo os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Uma patologia silenciosa, apesar de muito dolorosa, e com informações pouco difundidas. O resultado disso, são diagnósticos que demoram até dez anos para acontecer, comprometendo de diversas maneiras a qualidade de vida das pacientes.

Consciente do problema e com o objetivo de contribuir de forma mais ampla para uma mudança de cenário, a ginecologista e obstetra Glauce Casaes, que tem 25 anos de estudo e atuação em endometriose, lança a campanha Cólica não é normal. Durante todo o Março Amarelo, mês de Conscientização da Endometriose, haverá uma série de ações sustentadas em um pilar: difundir conhecimento sobre a doença. A primeira delas é o lançamento do site www.colicanaoenormal.com.br . Lives, entrevistas, uma campanha ampla e união de profissionais de diversas áreas da saúde também estão entre as ações que integram o projeto que busca a identificação de um modelo eficaz de prevenção, diagnóstico e tratamento. Segundo Glauce, é preciso desromantizar a cólica, para que as pessoas entendam que ela não é normal e pode ser um sintoma de endometriose.

“O propósito dessas ações é informar bem não só pacientes, como as pessoas de um modo geral, que podem acender o alerta em mulheres que estão sofrendo sem saber a causa, além de sensibilizar autoridades, políticos e órgãos responsáveis, para que ofereçam acolhimento, identificação da doença e tratamento adequado, com individualização de paciente e equipe multidisciplinar”, pontua Glauce.

A médica relata que a ideia da campanha surgiu diante do aumento no número de diagnóstico de endometriose, com atraso do tratamento. “São milhões de adolescentes e mulheres com a qualidade de vida afetada devido às cólicas intensas menstruais, que as impedem de irem à escola, ao trabalho e até de realizarem atividades domésticas. São dores abdominais, dores ao urinar, problemas sexuais devido a dispareunia, que é dor na penetração profunda, e frustração pela dificuldade ou impossibilidade de engravidar, quando se tem esse desejo”, ressalta.

A endometriose ocorre quando o tecido endometrial – que reveste o útero e cuja descamação gera o sangramento menstrual – sai da cavidade uterina e adere a outros órgãos como bexiga, ovários e intestino. “Como é uma doença inflamatória, crônica, progressiva e sem cura, que vai da adolescência a menopausa, as pacientes precisam de diagnóstico precoce, de orientação e conhecimento, para terem qualidade de vida, e esse é o outro mote da campanha: Mulher tem que viver bem”, acrescenta.

Para que a investigação e tratamento da endometriose aconteça, Glauce elenca alguns pontos chave: profissional de saúde apto a fazer uma boa anamnese (diálogo estabelecido entre profissional de saúde e paciente com o objetivo de ajudá-lo a lembrar de situações e fatos que podem estar relacionados a sua doença); um bom exame físico; e exames de imagem, que são a ultrassom para pesquisa de endometriose com preparo intestinal e ressonância da pelve.

“Venho me dedicando a esse trabalho há 26 anos. Percebi que é possível transformar de forma positiva a vida das mulheres, oferecendo diagnóstico precoce e tratamento adequado, favorecendo uma vida sem dor. Por que não fazer isso com todas as mulheres que vivem o problema, inclusive as que só podem ser assistidas pela rede pública? Uma mulher com uma doença séria como essa não pode buscar ajuda sem resposta ou orientação necessária para ter a mudança de vida que precisa. No futuro, isso vai gerar mulheres com maior capacidade de trabalho, de estudo, menor índice de absenteísmo e menores custos aos cofres públicos e individuais”, almeja.

Glauce Casaes é formada em medicina pela Universidade Federal da Bahia há 30 anos, dos quais 25 deles foram dedicados a estudos e trabalhos voltados para endometriose. Parte do seu conhecimento vem da experiência na Santa Casa de São Paulo, ao lado dos médicos ginecologistas Tsutomu Aoki e Paulo Arosa, mestres em diagnosticar, tratar e acompanhar a endometriose. Com eles, Glauce aprendeu a operar videolaparoscopia que, no passado, era a forma de diagnosticar a doença. E com eles aprendeu também a conduzir com respeito e de forma humanizada à mulher com endometriose.

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