Produção, que estreia na quinta (10), revisita a cobertura sobre a acusação infundada de abuso contra crianças em uma escola de SP. Erros cometidos pela mídia nacional ficaram marcados. Escola Base: Valmir Salaro revê papel que teve na cobertura do caso em 1994
Uma das coberturas mais polêmicas da imprensa brasileira, o caso da Escola Base, que virou uma “cicatriz” no jornalismo nacional, é tema de um novo documentário original Globoplay, com estreia nesta quinta-feira (10).
O casal dono da escola e outras quatro pessoas foram acusados injustamente de abusar sexualmente de alunos e tiveram a vida e a reputação arruinadas.
No longa “Escola Base – Um repórter enfrenta o passado”, o jornalista Valmir Salaro, primeiro profissional da mídia a noticiar as acusações, revisita o caso, que estourou em 1994. Os erros cometidos pela imprensa no episódio ficaram marcados e viraram matéria obrigatória nas faculdades de comunicação do país todo.
Em uma sessão de pré-estreia para estudantes de jornalismo em São Paulo nesta quarta (9), Salaro disse acreditar que “essa história nunca mais se repetirá”.
“A imprensa, de uma certa forma, mudou muito depois da Escola Base. Erros continuam acontecendo, mas é porque somos humanos. Eu errei, assumi minha parcela do erro. Foi um erro em conjunto. O caso marcou e vai marcar para sempre”, afirmou.
Na época, Icushiro Shimada e Maria Aparecida Shimada, donos da Escola de Educação Infantil Base, no bairro da Aclimação, na zona sul de São Paulo, a professora Paula Milhim Alvarenga e o marido dela, o motorista Maurício Monteiro de Alvarenga, e um casal de pais de alunos foram acusados de abusar sexualmente de alunos de 4 anos, após a denúncia de duas mães.
O delegado da Polícia Civil então responsável pelo caso, Edelcio Lemos, determinou a prisão de todos antes de as investigações chegarem ao fim. A imprensa embarcou na história, sem questioná-la. A Escola Base teve suas dependências pichadas e os envolvidos sofreram ameaças de morte.
O caso foi amplamente divulgado pela mídia sem dar espaço para a defesa dos acusados, o que, no jargão jornalístico, é chamado de “ouvir o outro lado” (premissa ética fundamental para dar oportunidade igual às partes envolvidas). Após a troca de delegado e cerca de três meses depois, os acusados foram inocentados e o inquérito, arquivado por falta de provas.
Para o diretor de jornalismo da Globo, Ricardo Villela, voltar ao caso no documentário “aprimora o exercício do jornalismo”.
“Esse é um momento-chave na vida do jornalismo brasileiro, é uma cicatriz na história da nossa imprensa e decidir voltar para ela -e entendê-la- avança o conhecimento e aprimora o exercício do jornalismo”, avaliou.
Com direção de Eliane Scardovelli e Caio Cavechini, a produção mostra ainda os reencontros de Salaro com os acusados e outros personagens da história, como Ricardo Shimada, filho do casal de proprietários da escola, já falecidos.