Grevistas exigem melhores salários para enfrentar a queda do poder aquisitivo devido à forte inflação. Em Paris, cinco linhas de metrô vão ficar fechadas e algumas vão funcionar de maneira limitada em horários de pico
REUTERS – SARAH MEYSSONNIER
Sindicatos em ao menos quatro países europeus realizam greves nesta quarta (9) e quinta-feira (10), exigindo melhores salários para enfrentar a queda do poder aquisitivo devido à forte inflação. Em Paris, boa parte das linhas do metrô não deve funcionar na quinta-feira (10) devido à greve convocada por todos os sindicatos da empresa de transportes RATP que exigem aumentos salariais e uma melhoria em suas condições de trabalho.
Grandes paralisações aconteceram, nesta quarta-feira (9), na Bélgica e na Grécia e, na quinta-feira (10), estão previstos transtornos na França e no Reino Unido, onde os sindicatos dos enfermeiros também votaram pela primeira vez em mais de um século a favor de uma greve ainda sem data.
Na França, centrais sindicais convocaram para quinta-feira uma greve nacional de um dia que deve paralisar o transporte na capital, Paris, em protesto contra a inflação.
A princípio, cinco linhas do metrô terão o serviço interrompido e outras nove funcionarão apenas no horário de pico, com o serviço reduzido. Apenas duas linhas automatizadas – sem condutores – funcionarão normalmente, mas com risco de saturação.
As linhas A e B do RER, trens que ligam a capital ao subúrbio, funcionarão apenas nos horários de pico, com metade da oferta normal.
Por fim, a rede de ônibus também será interrompida com cerca de 20 linhas paradas e serviço parcial em outros lugares, sabendo que a RATP já enfrenta dificuldades operacionais nesta rede devido à falta de pessoal que afeta 25% das linhas.
Apenas o bonde (tramway) funcionará mais ou menos normalmente, com exceção da linha T5.
Esta greve, planejada há muito tempo, está sendo combinada com a convocação à mobilização nacional pelo mais influente dos sindicatos, a Confederação Geral do Trabalho (CGT). Esse núcleo sindical pede um aumento do salário mínimo e a indexação dos salários à inflação.
Inflação e crise energética
Toda a região enfrenta um aumento exponencial dos custos de energia no momento em que se aproxima o inverno (no Hemisfério Norte) e convive com uma inflação persistente de 10%, em um quadro explosivo que gera impaciência e preocupação na população.
Assim, as centrais sindicais, que convocam essas medidas, coincidem em afirmar que os salários atualmente não permitem enfrentar o aumento do custo de vida.
Nesta quarta-feira, os sindicatos belgas convocaram uma greve nacional para proteger o poder aquisitivo dos salários, com suspensão do serviço ferroviário e os supermercados fechados. No principal aeroporto da capital, Bruxelas-Zaventem, 60% dos voos previstos foram cancelados por falta de pessoal nas plataformas operacionais.
Enquanto isso, o aeroporto de Charleroi (principal núcleo da companhia Ryanair no continente europeu) permaneceu fechado, com todas as suas decolagens canceladas.
A greve nacional foi convocada pela maior confederação sindical do país, a Federação Geral do Trabalho da Bélgica (FGTB, socialista), com o apoio da Confederação dos Sindicatos Cristãos (CSC).
Em Bruxelas, apenas 25% do serviço ferroviário estava funcionando nesta quarta-feira.
Reivindicações na Grécia
A Grécia também se movimentava em câmera lenta nesta quarta-feira, após um protesto nacional contra o aumento dos preços ao consumidor.
Pela manhã, Atenas, uma cidade onde o trânsito costuma ser intenso, parecia um lugar abandonado, com a suspensão total do serviço de ônibus, bondes, metrôs, trens e táxis.
As conexões marítimas entre a Grécia continental e as ilhas dos mares Egeu e Jônico também foram suspensas, pois o sindicato que opera essas linhas também aderiu à greve.
Convocadas pela Confederação Geral dos Trabalhadores Gregos (GSEE), cerca de 20.000 pessoas se reuniram na capital para protestar contra o efeito dramático que essas crises combinadas têm sobre os salários.
De acordo com a polícia grega, os agentes dispersaram protestos em Atenas, onde os manifestantes jogaram tinta vermelha contra o Banco Central, e em Tessaloniki.
“O aumento do custo de vida é insuportável”, denunciou o GSEE, que também pediu “aumento de salários e proteção social para todos”.
O governo grego anunciou que preparou um plano de ajuda para que a população possa enfrentar as altas tarifas de energia, mas os sindicatos afirmam que é apenas uma medida pré-eleitoral, oito meses antes das eleições gerais.
Insatisfação geral
No Reino Unido, o Royal College of Nursing (RNC), que representa quase meio milhão de enfermeiros, anunciou a aprovação da primeira greve nacional em seus 106 anos de história.
Outros trabalhadores ligados à área da saúde pública – como equipes de ambulâncias ou porteiros hospitalares e até pessoal de limpeza – também participam de uma consulta do RNC que pode levar a uma paralisação.
O governo britânico afirmou que tem planos de emergência em caso de uma greve de paramédicos, mas o anúncio não acalmou os temores sobre o impacto da greve em um setor que ainda luta para se recuperar do caos causado pela pandemia de Covid-19.
Na Espanha, a Plataforma em Defesa do Transporte, um grupo de autônomos e pequenas empresas de transporte de mercadorias, pediu a paralisação das atividades para a próxima segunda-feira. Este setor havia encenado uma dura greve de 20 dias em março.
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