As dificuldades da vida só levaram Hudson a uma escola aos 14 anos, quando os colegas tinham 8. Desde então, ele conviveu com o etarismo durante toda a formação educacional. Hudson tem 74 anos resolveu fazer computação gráfica como sua quarta graduação
Reprodução/Acervo pessoal
Ataques preconceituosos à uma estudante de 45 anos em São Paulo trouxeram à tona um problema conhecido como etarismo, que é a discriminação e preconceito relacionados à idade de uma pessoa, seja ela mais velha ou mais nova. Mas, a diferença de idade não foi um empecilho para Hudson Ferreira, mineiro que tem 74 anos e é estudante do terceiro período de Computação Gráfica na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
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O estudante, que estuda no campus de São Mateus da Ufes, no Norte do estado, contou que desde novo enfrentou dificuldades no ambiente escolar com a diferença de idade. Isso porque Hudson teve só contato com uma escola quando tinha 14 anos.
“A primeira vez que eu fui chamado de velho eu tinha 14 anos. Foi a primeira vez que eu entrei na escola, porque antes que aprendi alguma coisa em casa. E aí os meus colegas tinham 8 anos e eu lá, com 14. Eu fiquei um semestre só e depois eu fui estudar na escola agrícola”
A curiosidade de Hudson despertou o interesse pela tecnologia
Reprodução/Acervo pessoal
O que para muitos pode parecer um desafio, serviu de motivação para Hudson. Não conhecer o mundo tecnológico despertou a curiosidade do estudante, que resolveu voltar para a sala de aula para fazer a quarta graduação
“Eu gosto de aprender. O que já tinha estudado, Direito, Engenharia Civil e Econonomia, me deu uma base sobre conhecimentos gerais do ser humano. Mas veio o computador, e todo mundo mexe com essa maquinha, daí quis entender mais sobre ela. Me matriculei e passei no curso. Eu não tenho medo, sou muito curioso”, disse.
Hoje, com 74 anos, Hudson disse que não escutou mais comentários como esse ou se sente desconfortável assim. Muito pelo contrário, colegas de sala enxergam ele como inspiração.
“Um colega meu de 17 anos chegou pra mim e disse: ‘quando eu crescer quero ser igual a você’, contou Hudson.
A maior felicidade do estudante é poder ver que se sente independente com a tecnologia, e que consegue resolver problemas que aparecem nas máquinas sozinho mesmo.
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“Já tô sentindo bastante diferença. Antes a minha relação com as máquinas era só de trabalho mesmo, não era por gosto, era por obrigação. Mas aí veio essa curiosidade de saber como a coisa se processa dentro do computador. E eu tô gostando. Eu não gostava da tecnologia, era uma necessidade. Recentemente eu até estava com um problema no meu computador novo, eu estava com dificuldade, mas eu mesmo resolvi”, disse o estudante.
Variedade de gerações
Mosaico da Ufes foi feito por Raphael Samú
Divulgação/Ufes
De acordo com a Ufes, até o segundo semestre de 2022, dos 18.839 alunos, 611 homens e 811 mulheres têm mais de 40 anos e 46 homens e 57 mulheres passam dos 60 anos de idade.
O encontro de pelo menos seis gerações nos campi da universidade não é por acaso. Para a professora do Departamento de Serviço Social Cenira Oliveira, em geral, pessoas que iniciam a graduação mais tarde não o fazem por opção, mas por questões relacionadas à saúde, à necessidade de ingresso precoce no mercado de trabalho, à sobrevivência, entre outros motivos.
“A história de vida e a classe social determinam essas escolhas que, na verdade, não são escolhas. São determinações da condição de vida dos sujeitos”, avalia a professora.
Segundo Cenira, que é uma das coordenadoras da Universidade Aberta à Pessoa Idosa (Unapi), programa de extensão da Ufes que promove a educação continuada para pessoas a partir dos 60 anos, casos de pessoas que adiaram o sonho da formação universitária para colocá-lo em prática quando as condições da vida estivessem mais favoráveis, são habituais.
“Isso acontece muitas vezes depois de aposentar, criar filhos, juntar algum dinheiro, conseguir um trabalho e assim por diante”, disse.
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