Parque em Vinhedo retoma quitações com 2 grupos, estipula metas para 2023 e tenta resolver pendência com a União. Reabertura de brinquedo fechado desde 2012 atrasa e tem data incerta. Área do parque Hopi Hari, em Campinas
Bruno Nogueira/Hopi Hari
O parque de diversões Hopi Hari (SP), em Vinhedo (SP), retomou o pagamento de dois grupos de credores desde dezembro de 2022 após aval do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP). Veja abaixo como está a recuperação judicial do estabelecimento e o que está previsto para cada categoria.
Em meio à discussão sobre comprovação da regularidade fiscal, que completou um ano neste mês, o parque diz aguardar um parecer do Ministério Público para definir a reabertura do brinquedo elevador, antes prevista para o ano passado, e projeta novas atrações para o público até o fim deste ano.
Como está a recuperação judicial?
A retomada de pagamentos pelo parque aos credores teve início em dezembro de 2022, segundo a advogada Elaine Bussi, integrante do escritório que atua como administrador judicial, após liberação pelo TJ-SP, que rejeitou recursos de cinco credores que integram o grupo de quirografários.
De acordo com ela, as categorias contempladas são trabalhista e garantia real, e há expectativa de que acertos com as empresas de pequeno porte (EPP) e microempresas (ME) comecem no próximo mês. Antes disso, as transferências estavam interrompidas por determinação judicial desde abril, informou o advogado do parque Felipe Genari, em entrevista ao g1 em setembro do ano passado.
O plano de recuperação judicial do parque chegou a ser homologado em fevereiro de 2022 pela Justiça de Vinhedo com dívida reajustada em R$ 420 milhões, mas depois ela foi suspensa porque a União reivindicou a comprovação da regularidade fiscal, o que continua em discussão no TJ-SP. Apesar do imbróglio permanecer inconcluso, não há mais nenhum efeito de interrupção sobre os pagamentos.
Em 17 de janeiro, a 2ª Câmara Reservada de Direito Empresarial cobrou informações sobre as negociações do parque com a União, sob pena de converter o plano de recuperação judicial em falência. O despacho foi publicado após o tribunal já ter concedido duas vezes ampliações de prazo para que a comprovação fosse demonstrada pelo Hopi Hari.
“Em 24 de janeiro de 2023, a recuperanda apresentou novo pedido de dilação de prazo, que ainda não foi analisado pelo desembargador”, explicou Elaine ao mencionar que, apesar da necessidade de aguardar o desfecho, o Superior Tribunal de Justiça tem autorizado a recuperação sem esta certidão.
O Hopi Hari diz ter ciência do despacho sobre a transação tributária. “O juízo já foi informado e em tempo hábil. A proposta de transação já foi apresentada para a Procuradoria da União e segue seus trâmites regulares”, informa nota da assessoria sem indicar uma expectativa para fim do impasse.
“O Plano de Recuperação Judicial do parque Hopi Hari foi aprovado e homologado em fevereiro de 2022, em Assembleia Geral de Credores. No entanto, cinco destes credores que manifestaram voto contrário ao plano de recuperação, entraram com um recurso de cancelamento do plano. O desembargador substituto que assumiu o caso precisou de alguns meses para estudar todo o processo e entender todos os aspectos. Este desembargador – que assumiu em virtude do falecimento do magistrado anterior – optou pela suspensão do plano de recuperação. Após a análise de todos os documentos do processo, acompanhando os resultados emitidos pelo Ministério Público a favor da continuidade do PRJ, o desembargador considerou que os pedidos de liminares não procediam e decidiu pelo deferimento do plano, o que ocorreu em dezembro de 2022. Os pagamentos dos credores foram retomados no final do ano passado. Mesmo antes da aprovação do PRJ, a classe de credores trabalhistas já vinha sendo paga e os depósitos seguem acontecendo. As demais classes de credores listados estão recebendo de acordo com a programação estabelecida no próprio PRJ”, diz nota.
O que já foi pago e lucros?
Em balanço, o parque diz que pagou R$ 3,3 milhões a credores no ano passado e o total corresponde a R$ 4,9 milhões desde 2021. Além disso, o Hopi Hari projetou um novo saldo até dezembro.
“Em 2023, está prevista a destinação de aproximadamente R$ 32,1 milhões para pagamentos de credores sujeitos ao plano, com o início do pagamento das Classes III [quirografários] e IV [enquadrados como microempresa ou empresa de pequeno porte]”, diz nota da assessoria.
Segundo o parque, os pagamentos serão feitos em até 16 anos:
Classe 1 – trabalhadores: R$ 8 milhões e prazo de 12 meses
Classe 2 – garantia real (onde estão os maiores credores): R$ 330 milhões e prazo de 16 anos
Classe 3 – quirografários (empresas e fornecedores): R$ 72 milhões e prazo de 16 anos
Classe 4 – microempresas e empresas de pequeno porte: R$ 2 milhões e prazo de 5 anos
O lucro bruto do Hopi Hari em 2022 foi de R$ 84,5 milhões, alta de 65% sobre os R$ 51,1 milhões do ano anterior. Já o Ebitda ajustado – lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização – subiu no período avaliado de R$ 32,7 milhões para R$ 62,2 milhões, explicou a assessoria.
O parque destacou que recebeu 917,6 mil visitantes no ano passado, total que significa crescimento de 25% sobre os 732,8 mil de 2021. A projeção para este ano do parque é elevar o público em 30% e o faturamento em 45% ao conseguir retomar parcerias, fazer pagamentos e projetar novidades.
Roda-gigante no parque de diversões Hopi Hari, em Vinhedo
Luciano Calafiori/g1
Valores
A União indica passivo estimado em R$ 264,3 milhões para impostos federais, incluindo PIS (Programa de Integração Social) – contribuição tributária federal paga por empresas para compor benefícios a trabalhadores do setor privado; Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) – destinado à previdência social, saúde pública e assistência social, além do Imposto de Renda.
No processo de recuperação judicial, por outro lado, outros valores também são considerados pelo Hopi Hari como os R$ 15,6 milhões referentes à dívida de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), neste caso, um imposto estadual cobrado sobre a venda de produtos.
Instalado desde 1999 às margens da Rodovia dos Bandeirantes (SP-348), o Hopi Hari chegou a ter um plano de recuperação aprovado em abril de 2019. Entretanto, ele foi contestado porque deixou de fora do acordo os maiores credores, o que obrigou a retomada das discussões sobre o assunto. O caso se arrasta desde 2016, quando houve o primeiro pedido para evitar a falência, e o parque segue reaberto desde agosto de 2017, após ficar fechado por quase três meses em meio às dificuldades financeiras.
À época em que a União reivindicou a demonstração tributária, o Hopi Hari reforçou que, antes da liminar, já negociava e tem expectativa de reduzir o valor para a casa dos R$ 100 milhões. Além disso, reforçou que a documentação solicitada “será apresentada e comprovada ao TJ-SP”.
“Em nenhum momento, o parque esteve sob risco de falência. Pelo contrário, mesmo em períodos mais críticos, manteve seus funcionários, sem fazer demissões, e conseguiu gerar bons resultados financeiros e operacionais, amplamente divulgados pela imprensa”, diz texto divulgado na ocasião
Reabertura do elevador
A reabertura do brinquedo elevador segue indefinida, embora o parque de diversões tenha manifestado anteriormente que previa colocar esta atração em funcionamento no segundo semestre de 2022. Fechado desde 2012, após morte de uma adolescente de 14 anos, o brinquedo deve trocar de nome – Le Voyage em vez de La Tour Eiffel – e o Hopi Hari diz que aguarda um parecer do MP-SP.
“A análise técnica está em andamento. Todos os procedimentos são acompanhados pelo Ministério Público e, além disso, há também o trâmite envolvendo orçamentos junto ao fabricante para a reforma. Portanto, somente depois de todas as análises concluídas e do parecer final do MP é que será anunciada a data de reabertura”, informou a assessoria sem indicar um prazo para conclusão.
A assessoria do Ministério Público não se manifestou sobre o assunto até esta publicação.
Brinquedo elevador está fechado desde 2012 no Hopi Hari
Karoline Porto/g1
Novas atrações
O Hopi Hari prevê relançar a atração Katapul em abril. Segundo o parque, é a única montanha-russa de propulsão de lançamento do Brasil – dispensa uso de correntes que levem o trem até o topo – e uma das poucas unidades em operação no mundo em que para algum momento há volta de costas.
Ela está fechada desde novembro de 2022 para troca de partes mecânicas e componentes. Além disso, mais três atrações devem ser inauguradas no segundo semestre deste ano:
Aribabobbi: permite que os passageiros embarquem no barco do marinheiro Bobbi para uma “aventura que consiste em um vai e vem que dá friozinho na barriga”. Segundo o parque, a atração combina movimentos de balanço e rotação, e acomoda até 24 pessoas por ciclo;
Bugabalum: é a volta de uma atração que o parque teve na primeira década de funcionamento. Segundo o Hopi Hari, a região é um tributo à infância e ao lúdico e tem oito balões iluminados.
Vamvolari: a atração “onta a história de nativos mexicanos que habitavam a região antes da chegada de norte-americanos e cultuavam uma ave de rapina que costumava sobrevoar o cânion às margens do Rio Bravo”. O parque diz que ela “simula o voo sobre o desfiladeiro”.
As datas exatas e investimentos previstos não foram divulgados pela assessoria do parque.
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