O II Fórum de Pessoas com Deficiências (PcDs), que aconteceu nesta sexta-feira (25/11), na Cidade do Saber, reuniu gestores municipais, vereadores, entidades representativas, profissionais de diversas áreas e sociedade em geral, em torno do tema “Superar barreiras para garantir a inclusão”. Ao longo de todo o dia, foram debatidas e propostas alternativas, no intuito de implantar novas políticas públicas e implementar aquelas já existentes, que beneficiem diretamente este segmento da sociedade camaçariense.
Considerando que um fórum é um espaço de escuta social, onde é possível identificar problemas e sugerir soluções para melhorias, o gestor da Secretaria de Relações Institucionais (Serin), Dilson Magalhães Jr., definiu o evento como ocasião de fortalecimento da democracia e cidadania no município, e destacou, “só o fato deste fórum existir, ser construído a várias mãos e possibilitar que categorias da sociedade e diversas organizações aqui representadas, possam sugerir, criticar, reclamar e também elogiar, é naturalmente um lugar democrático”.
A articuladora do Grupo de Trabalho Coordenador (GTC) da 7ª edição do Programa Prefeito Amigo da Criança (PPAC), Janete Ferreira, explicou que o II Fórum de PcD foi lançado desde a realização do primeiro evento, que aconteceu em dezembro do ano passado. “Ao longo deste ano, foram realizadas uma série de encontros mensais para planejamento e construção, quando definimos, de forma unânime, o tema central do fórum, os assuntos das palestras e convidados, parceiros, logística de trabalho, homenagens, e outras definições”, comentou. Janete ainda destacou que a organização para o terceiro evento, que acontece em 2023, deve começar em breve, e pontuou, “queremos ampliar cada vez mais, não só um dia, mas vários, porque não dá para fazer uma discussão para este público-alvo de forma tão rápida”.
Opinando sobre como um fórum pode ser usado enquanto uma arma importante na luta pelos direitos da pessoa com deficiência, o presidente da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Camaçari (Apae), Marcondes Souza, destacou, “este é um lugar onde governo, sociedade civil, PcDs e responsáveis que lidam com este público, podem conversar e alinhar sobre o que está sendo feito na cidade, e o que se pode fazer para melhorar sua qualidade de vida. Atualmente, a APAE atende 225 pessoas com diferentes deficiências, e os autistas fazem parte do principal público assistido pela entidade, que também trabalha com pessoas com síndrome de Down, deficiência múltiplas e intelectual, entre outras”.
Representando a União das Pessoas com Deficiência de Camaçari (Udec) no evento, o presidente da organização, Fredson Santos, estimou que podem existir mais de 190 cadeirantes no município. Sobre a realização do II Fórum PcD em Camaçari, comemorou, “este é um momento em que podemos apresentar as demandas da nossa causa, e sermos ouvidos. Aqui, o governo está com ouvidos e olhos bem abertos, para nos ver, ouvir e nos atender”.
A ex-secretária da Udec, Telma Nascimento, de 38 anos, moradora do bairro Verdes Horizontes, pediu para falar um pouco de sua história, e fazer um pedido para as mães de crianças que não têm deficiências. “Não nasci com paralisia, mas desenvolvi quando tinha 10 anos. Eu estava brincando com meus irmãos, caí e tive uma lesão na coluna. Desde então, não levantei mais. Mas, isso não me impediu de viver, inclusive de ser mãe. Meu filho hoje tem 8 anos, e aprendeu que uma pessoa com deficiência é igual a todas as outras pessoas. E a mensagem que deixo para as mães de crianças saudáveis, é que ensine seus filhos a respeitarem as pessoas com deficiência e tratá-las como iguais”, finalizou.
Também morador do Verdes Horizontes, o aposentado de 68 anos, Manoel Lourenço, é uma pessoa com deficiência visual. Segundo explicou, sua condição foi adquirida em um acidente de trabalho, quando seus olhos foram atingidos por um produto químico. Manoel disse que fez questão de marcar presença no evento e justificou, “os cegos também têm que estar presentes, para dar uma força àqueles que estão lutando por nós”. O idoso aproveitou a oportunidade, para mandar um recado às pessoas que não enxergam e estão desanimadas. “Procurem ter uma vida mais ativa e carregar Deus no coração. Com Deus, a gente não tem medo, anda por todos os lugares. Eu dirijo e meu volante é minha bengala”, brincou.
A responsável pelo setor de ações sociais da Associação de Deficientes Visuais de Camaçari, Amanda Santos, que tem deficiência auditiva, se comunicou através de Linguagem de Sinais (Libras), falou da importância do fórum. “Nós precisamos desta atenção das pessoas. Muitos não nos conhecem, não sabem da nossa existência, nem das nossas necessidades. Este é um espaço de luta, de trabalho e de visibilidade”. Amanda ainda chamou a atenção para a condição de muitos jovens surdos, que parecem não ter perspectiva de futuro, e observou, “muitos vivem em casa, brincando em celular, quase que esquecidos, então, este momento mostra tudo o que já conquistamos até aqui, e o que ainda podemos conquistar”.
Luciane Freire, diretora da Associação Pestalozzi de Camaçari desde 2018, comentou sobre a relevância do encontro, que chamou de “espaço oportuno”. Reconhecendo o valor do evento, onde as PcDs têm oportunidade de se colocar e mostrar seu trabalho, ela reconhece o município como inclusivo, mas pontuou, “ainda precisa vencer algumas barreiras e proporcionar mais direitos para a pessoa com deficiência, além disso, é importante fortalecer as parcerias, porque entidades como a nossa, e tantas outras, precisam cada vez mais do apoio de todos”.
Iraci Amaral, moradora do bairro Gleba E, é mãe de Alissom Amaral, de 38 anos e PcD desde o nascimento. Falando sobre as áreas do município em que houve avanços importantes quanto à inclusão de pessoas com deficiência, ela destacou a saúde, e citou que “o município melhorou muito na oferta de serviços de fisioterapia e atendimento psicológico, inclusive para as famílias. Antigamente, isso era muito precário, mas hoje a gente pode comemorar”.
Entre as autoridades presentes no evento, também participaram a gestora e vice-gestora da Secretaria da Mulher (Semu), Fafá de Senhorinho e Bella Batista, respectivamente; a subsecretária de Governo (Segov), Ilay Ellery; e o diretor de Planejamento, Gestão e Finanças da Secretaria da Educação (Seduc), Márcio Vila Flor. O evento também contou com a participação de servidores das diversas pastas da gestão municipal; dos vereadores Dedel e Vaninho da Rádio; de representantes da Ordem dos Advogados da Bahia (OAB/BA) – Subseção Camaçari; da Polícia Militar da Bahia (PM-BA); e do Centro de Apoio à Educação Inclusiva (Caei).