O cordelista, folheteiro e – sobretudo – incansável agitador da cultura popular nordestina Jurivaldo Alves voltou de Serra Talhada, em Pernambuco, entusiasmado. Lá, ele participou do Seminário Cariri Cangaço, evento que reúne estudiosos, divulgadores e admiradores da cultura nordestina. No sábado – Dia do Cordelista – conversei longamente com Jurivaldo em seu espaço de cordel no Mercado de Arte Popular, o MAP. Na ocasião, ele revelou o desejo de – quem sabe um dia – a Feira de Santana abrigar o evento.
– Muitos consideram Lucas da Feira o primeiro cangaceiro do Nordeste. O evento aqui em Feira poderia contribuir com essa discussão – Observou Jurivaldo. O seminário mobiliza centenas de participantes e contribui para movimentar hotéis, restaurantes, bares – enfim, boa parte da cadeia de serviços – das cidades que o abrigam. Além, claro, da projeção cultural que naturalmente assegura.
Na Bahia, o seminário só aconteceu em Paulo Afonso, cidade emblemática por ser berço de notórias figuras do cangaço e também pela sua localização geográfica, próxima de Sergipe, de Alagoas e de Pernambuco. A participação da Feira de Santana no circuito do evento ampliaria as fronteiras do Cariri Cangaço e estimularia o interesse pela cultura nordestina na região, aposta o cordelista.
– Mas é necessário apoio, sozinho em não teria condições de organizar – Comenta Jurivaldo, esperançoso de que, em algum momento, a gente graúda da cultura local se interesse pelo Seminário Cariri Cangaço. Muito conhecido, o cordelista às vezes interrompe o papo para cumprimentar os conhecidos que circulam pelos corredores do MAP.
A disposição para a conversa, a entonação e o jeito de gesticular lembram meus parentes mais antigos de Baixa Grande, município distante 140 quilômetros da Feira de Santana. Não se trata de coincidência: Jurivaldo também nasceu em Baixa Grande e viveu por lá até o começo da vida adulta. Conviveu muito com Bianor Pamponet, liderança política da região até os anos 1960.
Sobre o líder político, relembra detalhes de sua trajetória com precisão, sobretudo a disposição para conciliar conflitos. “Às vezes dois sujeitos brigavam, um era ferido a facão. Na casa de Bianor o ferido encontrava socorro, cuidavam dele. Depois, aparecia a família do agressor, pedindo que Bianor livrasse ele da cadeia”, rememora.
Jurivaldo Alves planeja, para o futuro próximo, lançar uma publicação sobre personagens populares nas ruas de Baixa Grande de sua infância. Dá um exemplo: “Uma moça perdeu o juízo e só comparecia à feira, no sábado, vestida de Carmen Miranda. Era uma figura popular na época”, relembra. Segundo soube, a moça morara em Salvador e fora escolhida rainha do Carnaval ou algo do gênero. Nas ruas de Baixa Grande, seguia encarnando a personagem dos seus dias de glória.
Conheço Jurivaldo Alves há décadas. No fim da adolescência, frequentei muito sua casa, era amigo dos seus filhos. Fui, inclusive, colega de escola de Marivaldo, seu filho mais velho. Em sua casa, era sempre muito bem recebido. Mudanças de cidade e atribulações da vida adulta acabaram gerando certo distanciamento, mas sempre acompanhei atentamente sua trajetória de divulgador da cultura popular do Nordeste.
O cordelista Jurivaldo Alves – nascido em Baixa Grande – é, sem dúvida, uma das mais importantes personalidades da cultura popular na Feira de Santana.