Contêineres perdidos no oceano são responsáveis por muitos dos objetos encontrados nas praias de todo o mundo, desde patos de brinquedo até aparelhos telefônicos. Contêineres perdidos no oceano são responsáveis por muitos dos objetos encontrados nas praias do mundo todo — desde patos de brinquedo até aparelhos telefônicos
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Uma esfera quase perfeita, com cerca de 1,5 metro de diâmetro, intrigou recentemente a população do Japão.
No mês passado, o objeto metálico misterioso apareceu no litoral da cidade japonesa de Hamamatsu, gerando uma série de especulações sobre o que poderia ser.
Apesar do exterior metálico, provavelmente não era uma mina explosiva, embora o esquadrão antibombas tenha ido até lá verificar. Tampouco acredita-se que era um dispositivo de vigilância, receio que foi alimentado pelos recentes relatos de balões espiões chineses sobrevoando os Estados Unidos.
Mas não foi a primeira vez em que um esfera gigante foi levada pelo mar até a costa.
Em 2019, a polícia de Londres recebeu a denúncia de que um dispositivo explosivo não detonado havia sido encontrado às margens do Rio Tâmisa, em Wapping. Era um enfeite de Natal gigante.
Tampouco é a primeira vez que um artefato misterioso aparece no litoral. Todos os anos, o oceano traz muitos objetos incomuns que, muitas vezes, não podem ser imediatamente explicados.
A esfera metálica que apareceu na costa do Japão despertou curiosidade e até teorias da conspiração
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Nos últimos anos, banhistas se depararam com uma série de objetos nas praias. A seguir, estão são alguns exemplos:
Em 2022, surgiu na Flórida, nos Estados Unidos, um objeto de metal e madeira incomum com 24 metros de comprimento. As pessoas especularam que poderia ser uma barreira, um píer antigo ou até uma fileira de arquibancada de uma prova de automobilismo da Nascar. Os arqueólogos concluíram que era o casco de um navio naufragado.
Os moradores do litoral da Bretanha, na França, passaram 35 anos se surpreendendo com os aparelhos de telefone fixo com o personagem Garfield que chegavam até as praias. O culpado era um contêiner marítimo perdido, que apenas recentemente foi localizado.
Uma década atrás, blocos de material emborrachado marcados com a palavra Tjipetir apareceram em toda a Europa. Eles podem ter vindo de uma plantação de borracha na Indonésia.
Outro mistério relacionado à borracha surgiu no litoral no ano passado, quando um curioso bloco sólido em camadas foi encontrado em Falmouth, na Inglaterra. Ele pode ter sido um feixe de folhas de borracha 100 anos atrás. Outro bloco foi encontrado em Shetland, na Escócia, em 2020.
Um grande objeto de espuma foi encontrado na Carolina do Sul (Estados Unidos) em 2018. Parte da imprensa chamou de “lixo espacial”, mas uma análise mais completa das autoridades locais sugeriu posteriormente que se tratava de uma boia.
Telefones do personagem Garfield passaram anos aparecendo nas praias francesas até que a explicação fosse encontrada
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As descobertas de objetos nas praias revelam, muitas vezes, como eles conseguem viajar por longas distâncias e quanto tempo podem permanecer no oceano. Materiais como plástico ou borracha podem resistir décadas no mar e viajar por milhares de quilômetros.
Em 2020, o National Trust — o Fundo Nacional para Locais de Interesse Histórico ou Beleza Natural do Reino Unido — publicou uma lista de objetos insólitos encontrados nas praias do país.
A lista incluía um inseticida contra moscas da Rússia e uma lata de aerossol da Arábia Saudita, além de um pacote de salgadinhos de 1976 e os restos de um piquenique dos anos 1980.
Às vezes, os pesquisadores conseguem adivinhar a origem dos objetos trazidos pelo mar usando mapas das correntes oceânicas meticulosamente elaborados. E, a partir dos anos 1980, os cientistas marinhos passaram a empregar um conjunto padronizado de boias que enviam uma mensagem com sua localização em intervalos de algumas horas.
Uma década atrás, os oceanógrafos usaram esses dados para construir um mapa interativo, que revela qual a distância que os fragmentos flutuantes podem percorrer. Basta clicar em um ponto no oceano, e o mapa dirá onde um objeto naquele local irá parar depois de dias, semanas ou meses.
Um objeto lançado na costa do Japão, por exemplo, pode atingir a o litoral da Califórnia, nos Estados Unidos, depois de cerca de três anos.
Às vezes, os próprios fragmentos ajudam os cientistas a mapear as correntes oceânicas.
O exemplo mais famoso de resíduo utilizado com este propósito são os 29 mil patos, sapos, tartarugas e castores de brinquedo, conhecidos como Amigos Flutuantes, que caíram do navio Ever Laurel no Oceano Pacífico em 1992. Eles continuaram a ser encontrados mais de uma década depois, o que permitiu aos pesquisadores rastrear a velocidade, a localização e o alcance das correntes oceânicas.
No Japão, onde foi encontrada a esfera gigante, os pesquisadores também recorreram aos detritos para mapear as correntes marítimas. Entre eles, objetos naturais, como pedras-pomes flutuantes originárias de vulcões subterrâneos, mas também produtos descartados, como cartuchos de tinta de impressão, seringas, bolas de golfe, cartões de visita e garrafas de bebida, segundo Shigeru Fujieda, da Universidade de Kagoshima, no Japão.
Em um documento publicado no início de fevereiro, Fujieda propôs uma nova forma de rastrear as correntes oceânicas: os isqueiros.
“Os isqueiros descartáveis são um dos poucos tipos de lixo marinho que possuem comprovação da sua origem, pois eles têm informações impressas sobre a cidade ou o país consumidor”, ele escreveu.
E o isqueiro também “pode ficar à deriva por muito tempo no mar, devido à sua construção oca e robusta. Ele pode ser facilmente encontrado, recolhido e retirado da praia, devido às suas cores brilhantes e seu pequeno tamanho”, afirma o estudo.
Fujieda analisou 79.948 isqueiros coletados em praias e estuários de todo o Pacífico Norte, do Japão aos Estados Unidos, ao longo de sete anos. Isso permitiu que ele mapeasse e rastreasse os fluxos marítimos de detritos pela Ásia e pela América do Norte – o que pode, em princípio, permitir que os países entendam melhor de onde vêm o lixo e o plástico poluente que chega às suas praias.
Em tese, essas informações poderiam também ajudar a identificar como espécies potencialmente invasivas podem cruzar os oceanos sobre fragmentos flutuantes para colonizar novas partes do mundo.
Em 2011, o tsunami que atingiu o Japão carregou cinco milhões de toneladas de detritos para o mar. Parte deles passou mais de um ano flutuando no Pacífico Norte – incluindo os restos de um cais com 18 metros de comprimento que viajaram por 451 dias – até chegar à costa oeste dos Estados Unidos e do Canadá.
E espécimes da vida marinha, normalmente só encontrados nas águas rasas do Japão, pegaram carona com os destroços. Pesquisadores encontraram 289 criaturas marinhas que normalmente habitam a costa do Japão entre os fragmentos analisados, incluindo uma espécie de estrela-do-mar altamente predadora, chamada estrela-do-mar-do-pacífico-norte. A descoberta levantou o receio de que ela poderia se instalar em águas americanas e começar a devastar a biodiversidade local.
Em relação à esfera misteriosa que apareceu no Japão, ela não foi identificada até o momento da publicação desta reportagem. Mas a explicação mais provável é um pouco mais sem graça do que as ideias mirabolantes que surgiram nas redes sociais. É provável que seja algum tipo de boia de atracação.
Provavelmente, isso não irá impedir as pessoas e a imprensa de continuar especulando, como acontece todas as vezes em que o mar nos brinda com um grande objeto misterioso.
Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.
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