– …plof…plof.. (…)…plof… – O Paraguaçu morrendo em ondas mansas na orla de Cachoeira.
-PÉIN! PÉIN! PÉIN! – Vigorosos golpes de martelo na peça metálica, desmontando toldos após a Feira Literária de Cachoeira, a Flica.
– Chep… Chep… Chep… – O chinelo arrastado do casal de irmãos que passa com suas sacolas.
– HEY NOW, HEY NOW – Lá vai o cachoeirano ouvindo Don´t Dream It´s Over, de Crowded House, num aparelho de som sob o braço, gingando no ritmo do Recôncavo, sandália de dedo, bermuda e camiseta listradas.
“…Seu portão está velho e enferrujado? Faça um novo com a gente…” – O carro de som que anuncia os excelentes serviços de uma serralheria.
-FÊRA! FÊRA! – O grito do cobrador pendurado na porta do veículo, acenando para reticentes viajantes.
O sussurro manso do vento – fuu… fuuu… fuuuu… – nas copas estáticas das árvores.
Nas mesmas árvores – tiu,tiu,tiu,tiu – o pio incessante dos pardais, o flap! – muito suave – de suas asas.
-VRUM! VRUM! VRUM! – A caçamba estrepitosa que manobra na praça tranquila, lançando tufos densos de fumaça que se dispersa encardindo a atmosfera.
-AMIGO! AMIGO! Por favor, aqui é Cachoeira ou São Félix?
– Cachoeira! São Félix é aquela cidade lá, do outro lado do rio!
-Tá… – Ouviu, respondeu e se afastou, o olho bêbado.
-ssssshhhhhhh – A água agora chiando, encorpando-se, dando vazão ao Paraguaçu no fim da manhã.
– …Tava show o caldo de cana… – o ambulante de lanches elogiando o caldo de uma barraca, bem ali na orla de Cachoeira, sob um oitizeiro frondoso.
-… BUM… BUM… BUM… – Os veículos pesados atravessando a ponte, deslocando as placas metálicas que revestem o piso da ponte, ruído tremendo bancando trovão.
O silêncio do canoeiro solitário, bem no meio do Paraguaçu, vencendo a distância que separa São Félix de Cachoeira. O silêncio verde dos morros distantes. O silêncio inerte dos barcos, das lanchas, encalhados na lama do Paraguaçu.
De repente, estilhaçando o silêncio arquitetônico das ruas estreitas:
– PARÃ-PARAM! PARÃ-PARAM! PARÃ-PARAM!
O sino da Igreja de Nossa Senhora do Rosário ressoando nas quinas das esquinas dos quarteirões históricos de Cachoeira.
Ali perto – TLAC! PLAC! – a gente ruidosa abre garrafas de cerveja e latas de cerveja e bebe em copos plásticos sob a sombra frondosa de uma árvore defronte a um depósito de bebidas.
O silêncio manso, enigmático, do doido na Rua 25.
– FLAP! FLAP! – O som das asas dos urubus sobrevoando o casario em demanda de detritos.
O canto grave na missa – SALVA JESUS! – que se irradia pelas cercanias – CURA JESUS! – sob o sol inclemente.
– FOM! FOM! FOROM-FOM! – Músicos ensaiando no começo de tarde, as filarmônicas pulsando nos sons que se espalham.
No céu, bem no alto, nuvens brancas rolando o tempo todo, só com as pontas encardidas. Aqueles silêncios – reais ou metafóricos -, porém, só a fantasia de quem os imagina alcança…