Até pensei em fazê-lo, mas julguei prudente não chatear os leitores com mais uma análise sobre o primeiro turno das eleições. Muita gente capacitada já o fez ou vai fazendo a conta-gotas, à medida que as informações são sistematizadas. Imagino também que não falta quem já tenha se aperreado com tantas análises e com o falatório inevitável de qualquer processo eleitoral. Mais ainda: há quem esteja enfastiado com as próprias eleições, que estão aí na praça há anos, numa inédita – e irregular – antecipação.
Melhor seria abordar temas mais amenos: o verão que se aproxima, com a expectativa de praias lotadas agora que a pandemia da Covid-19, de fato, amainou; a Copa do Mundo, que mobiliza o brasileiro, embora a identidade com a Seleção Canarinho venha em xeque há tempos; as festas de final de ano, com suas esperanças renovadas num futuro melhor.
O fato é que o texto já alcança o terceiro parágrafo e, até agora, nada. Sigo hesitando em abordar os temas políticos porque – devo confessar – muito do que se vê aí engulha, enoja, provoca ânsia de vômito. Então, buscando assunto, passeio os olhos pelo calendário e noto que hoje é sexta-feira. Há, à frente, a perspectiva do final de semana, dos reencontros, da trégua semanal que se concede ao corpo e ao espírito. Tema bom, empolgante.
Mas, mesmo assim, hesito. É necessário reconhecer que a pandemia desarranjou a rotina, inclusive a lúdica, dos finais de semana. Restabelecê-la leva tempo, nem todos os medos foram diluídos. Muitos bares e restaurantes pela cidade permanecem vazios, sobretudo na segunda quinzena do mês. O dinheiro anda curto e as incertezas são grandes, não dá para seguir gastando, fiando-se só na confiança no futuro. Não se voltou, ainda, à normalidade pré-pandemia.
Há quem prefira a segunda-feira feirense, com seu movimento fervilhante, a gente que vem de fora em busca de serviços, de compras, de outras demandas. O movimento anima o centro da cidade, o Centro de Abastecimento. Há, também, quem escolha a manhã de sábado, que não deixa de ser uma prévia da segunda-feira, com uma vantagem adicional: a perspectiva do descanso no domingo, sem compromisso ou obrigação.
Aprecio esses prismas, mas reconheço que a sexta-feira também é prazerosa. Ela sempre traz a expectativa do fim de semana, dos encontros e reencontros, da liberdade com prazo de validade, dos planos mirabolantes, das ilusões passageiras. Sim, é melhor ficar com o prazer e a alegria da sexta-feira – ainda que, às vezes, apenas imaginárias – do que chafurdar no noticiário, envenenar-se com a xenefobia dos trogloditas contra nós, valorosos nordestinos…