Segundo dados da PRF, até as 6h30 desta quarta-feira (2) ainda havia, pelo menos, 167 pontos de paralisações. Manifestantes na SP-310 em São Carlos.
Lourival Izaque/Arquivo Pessoal
As paralisações ilegais realizadas por caminhoneiros bolsonaristas que não aceitam a derrota de Jair Bolsonaro para Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno das eleições presidenciais já geram impactos que vão além do trânsito intenso e bloqueios nas rodovias. Associações de diversos setores da economia relatam problemas que vão da falta de combustível a atraso em vacinas.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), até as 6h30 desta quarta-feira (2), ainda havia o registro de 167 bloqueios em rodovias federais pelo Brasil. A instituição informou, ainda, que 563 pontos de paralisações já foram desfeitos desde o domingo (30), quando as manifestações começaram após o resultado das eleições.
Na noite de segunda (31), os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) formaram maioria e aceitaram a decisão de Alexandre de Moraes, presidente da Corte, que determinou que a PRF realize operações para liberar as vias ocupadas.
Estoques dos supermercados
De acordo com Marcio Milan, vice-presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), até a última terça-feira (1°), mais de 70% dos supermercados em oito unidades da federação já enfrentavam problemas de abastecimento por conta da impossibilidade de deslocamento causada pelas manifestações.
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo, além do Distrito Federal, são os estados mais afetados pelos problemas de escoamento dos produtos de supermercados, com destaque para as frutas, legumes, verduras e carnes.
A Abras informou, também, que na tarde desta terça os supermercados registraram um aumento no movimento de consumidores, que temem pelo desabastecimento. Em contrapartida, a Associação pontua que as lojas têm o estoque necessário para atender a demanda por “mercearia seca” por, em média, cinco a oito dias. O maior problema são os alimentos perecíveis.
Viagens canceladas
Viagens também estão sendo afetadas pelos bloqueios. Além dos deslocamentos por ônibus que estão impossibilitados pelas paralisações, voos também foram cancelados.
No Aeroporto Internacional de São Paulo em Guarulhos, o maior do país, pelo menos 25 voos foram cancelados até a noite desta terça, segundo informações da GRU Airport, concessionária responsável pelo funcionamento do local.
Na véspera, a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR) informou que alertou as autoridades para o impacto que as paralisações estão gerando na malha aérea. “Estimativa das empresas aéreas mostra que, caso o cenário atual se mantenha, ao longo do feriado o setor poderá sofrer com desabastecimento de combustível”, pontua nota da entidade.
Além da falta de combustível, a ABEAR destaca que os serviços estão sendo afetados pela dificuldade de chegada de profissionais, tripulantes e passageiros aos aeroportos. Tais dificuldades podem prejudicar, até mesmo, atividades essenciais, como o transporte gratuito para o transplante de órgãos.
Ovos para vacina
Uma carga com cerca de 520 mil ovos que são utilizados pelo Instituto Butantan para a fabricação de vacinas contra o vírus H3N também ficou presa nos bloqueios. A situação ocorreu nesta terça no interior de São Paulo. O caminhão que transportava a carga saiu de São Carlos e ficou parado por horas nas proximidades de Jundiaí.
A carga deveria ter sido entregue ao instituto por volta das 6h da manhã de ontem, mas o caminhão só conseguiu seguir viagem ao meio dia, quando a Secretaria de Segurança Pública foi acionada. Os ovos só foram entregues depois das 14h, um atraso de mais de oito horas.
O Butantan havia informado que a carga só poderia ser aproveitada se fosse entregue até o fim da manhã de ontem. Depois de entregues, o instituto disse que os ovos serão avaliados por técnicos antes de seguir para a produção, mas ainda não há novas informações.
Caso os ovos não possam ser aproveitados, cerca de 1,5 milhão de doses da vacina contra Inflluenza seriam atrasadas.
Produção industrial
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) alertou para o “iminente risco de desabastecimento e falta de combustíveis, caso as rodovias não sejam rapidamente desbloqueadas”. Afirma ainda que as indústrias já sentem os impactos no escoamento da produção e relatam casos de impossibilidade do deslocamento de trabalhadores.
“As paralisações também já atingem o transporte de cargas essenciais, como equipamentos e insumos para hospitais, bem como matérias-primas básicas para as atividades industriais”, informou a CNI, que se declarou “veementemente contrária a qualquer manifestação antidemocrática que prejudique o país e sua população”.
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