Apesar da melhora na distribuição de renda, Brasil continua entre os 15 países mais desiguais do mundo
Embora a desigualdade de renda no Brasil tenha caído em 2022 para o menor nível da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ela segue alta. O país está entre os 15 países mais desiguais do mundo.
“Claro que é uma boa notícia, mas nada que apague o tamanho da desigualdade brasileira”, diz o economista Marcelo Neri, diretor da Fundação Getulio Vargas Social. Ele pesquisa o tema da desigualdade no Brasil há 35 anos e, hoje, é a principal referência desse assunto no país.
Em um ano, os valores de benefícios sociais pagos no Brasil, como o Auxílio Brasil, triplicaram: em 2021 eram R$ 200 por família. No segundo semestre de 2022, às vésperas das eleições, passou para R$ 600.
O número de famílias beneficiadas também aumentou: de 14 milhões de famílias em 2021 para quase 21 milhões em dezembro do ano passado.
Este foi um dos motivos que, segundo o economista, fez a desigualdade no Brasil ter caído tanto. Segundo ele, as diferenças na distribuição de renda devem continuar caindo este ano.
“Além do auxílio do Bolsa Família ter subido para R$ 614, foram acrescentados outros benefícios: ajuda de R$ 150 para crianças de zero a seis anos, de R$ 50 de sete a 17 anos, auxílio para gestantes. Para este ano é de se esperar uma continuidade desse efeito, da queda da desigualdade no Brasil”, afirma.
“Mas, desta vez, vamos ter um ano inteiro com benefícios mais altos, e não apenas um segundo semestre, como foi em 2022, por causa do ciclo eleitoral. É um grande alívio se lembramos que, entre 2015 e 2018, houve um aumento enorme dessa desigualdade pela recessão”, lembra Neri.
A diminuição da desigualdade da renda do trabalho para o menor valor da série histórica do IBGE foi outro fator importante para esse resultado, segundo o economista.
“O ano de 2021 ainda foi difícil, mas 2022 foi um ano de recuperação e normalização. Tirou a pandemia do dia a dia das pessoas. Então, teve essa redução de desigualdade de renda do trabalho que também contribuiu. Não é uma queda tão espetacular quanto foi a da renda total, mas contribuiu”, diz ele.
Na avaliação do diretor da FGV Social, para que essa queda na desigualdade de renda seja sustentada, um dos grandes desafios do país é trazer as pessoas mais pobres para o mercado de trabalho.
“Essa ainda é uma questão em aberto: incluir essa população adulta no mercado de trabalho com boa produtividade. Essa é a porta de entrada para a cidadania”.
Para isso, na avaliação de Neri, é fundamental que haja aumento do microcrédito no Brasil.
“Crédito para os pequenos produtores, para o pequeno negócio. Crédito produtivo, que financia o pequeno empreendedorismo. E, com isso, orientação financeira para que esses negócios prosperem, um crédito orientado, no tamanho do Brasil”, pontua.
O combate à desigualdade social também passa pela maior qualificação do trabalhador brasileiro e capacitação da mão de obra. Para Marcelo Neri, a implementação do Novo Ensino Médio, que foi suspensa este ano após protestos de entidades sindicais e docentes, seria um caminho importante para isso.
O novo projeto educacional prevê a ampliação das escolas em tempo integral, além de aumentar o tempo mínimo na sala de aula de 800 horas anuais para mil. O currículo também mudou, passando a incluir a opção de formação técnica profissional.
“É uma reforma que vai na direção correta. Claro, com alguns ajustes para serem feitos. É um trajeto educacional mais compatível com o mercado de trabalho, incluindo ensino técnico, empreendedorismo, assuntos que não contemplam só as carreiras universitárias. Esse Novo Ensino Médio precisa de fato acontecer”, afirma o pesquisador.
“O principal problema, na palavra dos jovens que estavam fora da escola, era a falta de interesse pelos estudos, falta de motivação. É um desafio, mas acho que é um desafio que está alinhado com as aspirações dos jovens”, complementa.
Fonte: CNN Brasil