Tela Noticias

Unicamp 2023: questão sobre Stella do Patrocínio não tem resposta certa, dizem cursinhos; comissão do vestibular vai consultar banca

Unicamp 2023: questão sobre Stella do Patrocínio não tem resposta certa, dizem cursinhos; comissão do vestibular vai consultar banca


Universidade aplicou 72 questões para 56,5 mil candidatos. Professores afirmaram que a pergunta de Língua Portuguesa tem problema de formulação; Comvest ainda vai se pronunciar sobre possível anulação. Candidatos realizam a prova da 1ª fase do Vestibular da Unicamp 2023
Leandro Ferreira
A primeira fase do vestibular 2023 da Unicamp, realizada no domingo (6), pode ter uma questão anulada. De acordo com três cursinhos ouvidos pelo g1, a pergunta apresenta mais de uma possibilidade de resposta, impossibilitando a definição de uma alternativa correta no gabarito. Veja abaixo o que dizem as unidades de ensino.
O diretor da Comvest, José Alves de Freitas Neto, afirmou na manhã desta segunda-feira (7) que a comissão, que organiza o vestibular da Unicamp, só vai se manifestar sobre a possibilidade da anulação da questão após uma averiguação com a banca examinadora do processo seletivo. O gabarito oficial deve sair na quarta-feira (9).
Gabarito extraoficial e correção comentada
VÍDEO: professores de cursinhos comentam prova
Os memes da primeira fase
Veja como foi a cobertura da 1ª fase
Transfeminismo, ditadura, saúde mental…veja o que caiu
FOTOS: as imagens da 1ª fase do exame
A questão que, de acordo com os cursinhos, não tem apenas uma resposta correta é de Língua Portuguesa e está no número 3 das provas Q, Z, S e X. Já nos cadernos R e Y ela é a pergunta 55, enquanto que nos exames T e W é a 19. Confira o texto de apoio, o enunciado e as alternativas de resposta:
Quebrando o silêncio dos hospícios
Stella do Patrocínio, apesar de ser reconhecida postumamente como poeta, nunca se definiu assim e não escreveu nenhuma das linhas que estão no livro Reino dos bichos e dos animais é o meu nome, pelo qual ficou conhecida. A potência de suas palavras se encontra no seu falatório (como chamava suas falas), que foi preservado em fitas de áudio pela artista plástica Carla Guagliardi. As conversas entre as duas foram gravadas durante oficinas de arte para pacientes psiquiátricos, entre 1986 e 1988, e o livro, publicado muitos anos depois da morte de Patrocínio, é um recorte de frases dela, transcritas desses diálogos.
As falas de Patrocínio são de uma mulher negra e pobre que foi levada à força pela polícia e internada, no Centro Pedro 2º e depois na Colônia Juliano Moreira, no Rio de Janeiro, onde ficou por trinta anos; quando morreu, foi enterrada como indigente. A história de Patrocínio é a história de milhares de vítimas que foram encarceradas nos hospícios brasileiros por serem consideradas “desajustadas”. Em sua maioria negras. Ali, elas sofreram abusos, violências e torturas, além de serem abandonadas pelo Estado.
(Adaptado de: Quebrando o silêncio dos hospícios. Quatro cinco um, 05/2022, p. 27.)
Questão:
Examinando a relação do título com o corpo do excerto da reportagem de revista, o que representa a quebra do “silêncio dos hospícios”?
a) A morte esquecida de Stella do Patrocínio em uma instituição para reclusão de pessoas com transtornos mentais (ou assim consideradas).
b) As oficinas de arte que permitiram a Stella do Patrocínio tornar pública a sua voz e as histórias de mulheres encarceradas em instituições manicomiais.
c) O livro de Stella do Patrocínio que narra as histórias de mulheres vítimas de violência manicomial, abandonadas pelo Estado.
d) As falas gravadas de Stella do Patrocínio que expressam tanto o seu percurso individual quanto a história de outras mulheres.
No domingo, o g1 preparou um gabarito extraoficial das 72 questões de múltipla escolha aplicadas na 1ª fase do vestibular 2023. Na correção, a resposta desta questão foi a alternativa b. Veja o comentário e todas as respostas.
Provas
As questões abordadas pela universidade são as mesmas em todos os modelos de prova, com mudança somente na ordem em que aparecem. A seguir o link de todos os modelos para conferência:
Provas Q e Z
Provas R e Y
Provas S e X
Provas T e W
O que dizem os cursinhos?
Anglo
O professor de português do curso Anglo Eduardo Calbucci afirmou que, a partir do momento que um grupo de professores, sem limite de tempo e com acesso aos materiais de consulta, coletivamente não consegue responder a questão, é “mau sinal”. Segundo ele, a questão, que pretende entender porque o texto recebeu o título de “Quebrando o silêncio dos hospícios”, possui uma progressão que impossibilita saber qual é alternativa certa.
Calbucci disse que tudo começa com oficinas de arte, que geraram as falas gravadas e posteriormente deram origem ao livro. Ou seja, de acordo com o docente, não dá para saber qual destas opções foi a responsável pela quebra do silêncio de Stella do Patrocínio ou se foram todas juntas, de maneira combinada.
“Por isso, fica muito difícil optar entre as alternativas B, C e D, porque a gente não consegue encontrar distratores claros em nenhuma delas e não consegue hierarquizar essa importância. Será que eles estão falando do livro, que é o processo final de quebra de silêncio e de popularização do nome dela? Ou será que eles estão dando mais atenção às oficinas de arte que permitiram aquilo? Ou será que a primeira vez que aquilo foi registrado, que foram as falas gravadas? Quer dizer, essa combinação faz com que a questão, ao nosso ver, fique sem resposta ou com três respostas aceitáveis”, pontuou o professor.
Oficina do Estudante
Vinícius André, professor de português do curso pré-vestibular Oficina do Estudante, explicou que a questão tem um “problema de formulação” por duas razões. A primeira diz respeito ao texto, que não determina exatamente qual foi o fator que tornou pública as falas de Stella. O outro motivo, segundo ele, é a ausência de repertório prévio para quem não conhecia a história da escritora.
“Eu, particularmente, acredito que ela deve sim ser anulada por esses problemas de formulação”, relatou. O cursinho, responsável pela correção extraoficial do g1 no domingo, afirmou que, no momento dos comentários, a banca de professores entendeu a alternativa B como a correta. No entanto, a D também respondia ao enunciado, mas de maneira genérica.
“O problema foi o recorte que fizeram do texto. Consultamos o texto completo que está na questão. A versão completa da ênfase ao livro publicado: ele configuraria a quebra do silêncio. Porém no trecho que a Comvest selecionou essa informação fica omitida, dificultando que o aluno chegue a resposta correta”, diz a nota da instituição.
Poliedro
Professor de Língua Portuguesa do curso Poliedro, César Ceneme informou que cada um dos momentos (oficina, conversas gravadas, livro e o próprio texto apresentado pela banca) pode ser considerado o mais importante para a “quebra do silêncio”.
“Sem a oficina não haveria rompimento do silêncio. Ao mesmo tempo, a gravação das falas potencializa romper o silêncio. Por isso, a gente aponta tanto a letra B quanto a D, porque elas formam uma espécie de ciclo, uma depende da outra. A gente imagina que como o texto foca na gravação das falas, a alternativa que a Unicamp vai oferecer é a D, porém nada diz que a letra B está errada. A gente acredita que as duas são muito imprecisas e, por isso, não tem uma resposta adequada”, comentou.
Conteúdo da prova
A avaliação seguiu o modelo da edição anterior do vestibular e teve 72 questões de múltipla escolha resolvidas pelos candidatos no período de cinco horas. O exame foi aplicado em 31 cidades de São Paulo, além de Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Curitiba (PR), Fortaleza (CE) e Salvador (BA).
12 de língua portuguesa e literatura
12 de matemática
8 de cada disciplina: biologia, física, geografia/sociologia, história/filosofia, inglês e química
Resumo da 1ª fase
A Unicamp manteve a tradição de estabelecer diálogos entre conteúdos do ensino médio e assuntos do cotidiano na 1ª fase do Vestibular 2023 ao abordar temas como transfeminismo, a presença do cristianismo em comunidades periféricas e o uso de selfies e linguagens da internet como recursos de comunicação. Confira aqui a lista de assuntos e a repercussão com estudantes.
Próximas etapas
A lista de convocados para a 2ª fase do vestibular será divulgada em 3 de dezembro, informou a Comvest. Já as próximas provas do processo seletivo serão nos dias 11 e 12 – período em meio à realização da Copa do Mundo no Catar, entre 21 de novembro e 18 de dezembro. O calendário foi definido de maneira conjunta entre responsáveis pelos vestibulares das universidades públicas de São Paulo, para evitar que datas coincidam e ainda facilitar a participação de candidatos nos exames.
A primeira lista de aprovados será divulgada em fevereiro de 2023, com matrícula online entre os dias 7 e 9. O semestre letivo começa no mês de março e a Unicamp prevê até oito chamadas.
LEIA MAIS
Educação física e ciência da computação registram alta na procura, e engenharias e medicina têm baixa; entenda
Análise das fotos de cotistas deve reduzir pela metade demanda para banca verificar autodeclaração étnico-racial
Vestibular tem baixas de candidatos em famílias com até 5 salários, e de fora de SP
Unicamp registra menor índice de candidatos da rede pública em 6 anos
Os dez cursos mais concorridos
Medicina – 293,87 candidatos por vaga (c/v)
Arquitetura e urbanismo – 83
Ciência da computação – 75,85
Ciências biológicas – 49,79
Engenharia de computação – 44,7
Comunicação social – midialogia – 39,58
Farmácia – 32,5
Enfermagem – 28,5
Ciências Econômicas (integral) – 29,61
História – 27,47
Cronograma
1ª fase: 6 de novembro de 2022;
Lista de aprovados para 2ª fase: 3 de dezembro de 2022;
2ª fase: 11 e 12 de dezembro de 2022;
Provas de habilidades específicas: 4 a 6 de janeiro de 2023;
Divulgação da primeira chamada: 6 de fevereiro de 2023;
Matrícula on-line da primeira chamada: 7 a 9 de fevereiro de 2023;
VÍDEOS: tudo sobre Campinas e região
Veja mais notícias da região no g1 Campinas.

administrator

Related Articles

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *