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Violência e desconfiança em seções de votação intimidam 40% dos eleitores americanos

Violência e desconfiança em seções de votação intimidam 40% dos eleitores americanos


Pesquisa revela medo e desconfiança, insuflados por grupos extremistas e partidários do ex-presidente Trump, nas eleições do próximo dia 8. Mulher veste adesivo escrito “eu votei”
Julia Nikhinson/AP
Dois em cada cinco eleitores temem violência ou intimidação nas seções de votação. Este panorama poderia perfeitamente se aplicar ao Brasil, mas foi traçado por entrevistados americanos na pesquisa Reuters/Ipsos sobre as eleições legislativas que se realizam no próximo dia 8 nos EUA. Trata-se do primeiro grande teste eleitoral desde a invasão do Capitólio por partidários do ex-presidente Donald Trump, descontentes com o resultado que deu vitória a Joe Biden.
O medo é motivado pela retórica agressiva e insuflada em mídias de extrema direita, que até hoje alimentam a falsa alegação de que a eleição foi roubada. A diferença é que agora os republicanos são favoritos e devem recuperar o controle da Câmara e provavelmente do Senado, num pleito que definirá como será a segunda metade do mandato de Biden.
A pesquisa Reuters/Ipsos revelou que dois terços temem a ação de extremistas após as eleições, caso não concordem com o resultado, como repeteco da violência registrada após a vitória do atual presidente americano. Vinte por cento disseram também não confiar no sistema de contagem das cédulas.
Manifestantes favoráveis a Donald Trump durante evento que ocasionou invasão ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021
Carolyn Kaster/AP
Este ambiente político tóxico e de desconfiança entre os dois campos políticos é reflexo da propagação sistemática de teorias da conspiração por partidários do ex-presidente sobre a lisura do processo eleitoral. Cerca de 70% dos republicanos ainda acreditam na tese de fraude generalizada, descartada pelos tribunais, e que Biden não é o presidente legítimo.
Em sites e plataformas extremistas a ideia de guerra civil passou a ecoar livremente, aplaudida e incentivada por políticos pró-Trump. Uma força-tarefa do Departamento de Justiça investigou mil mensagens relatadas por autoridades eleitorais como agressivas e intimidatórias. A maioria foi registrada nos estados onde o ex-presidente contestou a derrota eleitoral.
A campanha de assédio e ameaças levou à demissão de funcionários eleitorais em número recorde após as eleições de 2020. Trabalhadores de seções eleitorais passaram a receber treinamento de segurança. Foram contratados guardas e instalados vidros à prova de balas em locais de votação considerados vulneráveis. A eleição antecipada do pleito do dia 8 está em andamento, com 10 milhões de votos já depositados nas urnas.
Adesivos da campanha sobre voto antecipado nos EUA são colocados sobre mesa
Michael Conroy/AP
Os analistas Philip Friedrich Amy Slipovitz, da ONG Freedom House, ressaltam que o declínio significativo dos direitos políticos e liberdades civis vem ocorrendo há uma década no país e faz parte de um fenômeno global.
“Líderes populistas dentro de democracias ao redor do mundo têm trabalhado sistematicamente para minar ou desmantelar as instituições destinadas a responsabilizá-los e a controlar seu poder. Eles se beneficiam da desordem interna em potências democráticas como os EUA, onde a eficácia e a credibilidade como defensores dos direitos fundamentais dependem da força e do exemplo de seus próprios sistemas”, explicam os analistas em artigo publicado no site da entidade.
Nesse contexto, grupos extremistas que viviam à margem da sociedade americana, entre os quais milícias e o movimento QAnon, aos poucos se normalizam e são aceitos no Partido Republicano. Os moderados, por sua vez, passam a ser marginalizados. Guardadas as diferenças, esse cenário político tornou-se bem familiar aos brasileiros.

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