Especialistas ouvidos pelo g1 e pelo podcast Educação Financeira explicam as características mais comuns dos golpes e as maneiras mais eficientes para fugir dessas armadilhas. Caso Scarpa: aprenda a identificar fraudes de investimentos
Um experimento realizado pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) mostra que quase metade das pessoas cairia em golpe de investimento fraudulento.
A iniciativa, que tinha o objetivo de alertar sobre golpes financeiros, funcionou da seguinte maneira:
O site de uma empresa fictícia simulava uma oferta de fundos de ações e garantindo lucros altos;
Quase 900 mil pessoas visitaram o site durante os quatro meses em que ficou no ar, de novembro a fevereiro;
Entre os visitantes, 49% clicaram em um dos botões de investir nos produtos anunciados.
Mas, ao contrário de um investimento que prometia mundos e fundos, a pessoa era levada a uma página que alertava que ofertas como essa eram, muito provavelmente, uma tentativa de golpe, e também trazia dicas de como identificar e evitar situações como essa.
“É muito importante destacar que riscos existem e são diversos, como aspectos políticos e econômicos, riscos específicos envolvendo um setor ou companhia, dentre outros. Entretanto, existem riscos que são fraudes financeiras e que podem ser evitados pelo investidor”, alerta Andréa Coelho, chefe da divisão de Educação Financeira da CVM.
Especialistas ouvidos pelo g1 e pelo podcast Educação Financeira explicam as características mais comuns dos golpes e as maneiras mais eficientes para fugir dessas armadilhas e proteger seu dinheiro.
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Dá para atingir 5% investindo?
Um dos primeiros sinais de fraude é um lucro muito alto prometido, afirma Rodrigo Sgavioli, responsável pela área de alocação e fundos da XP Investimentos. Para o especialista, qualquer rendimento acima de 1% ou 1,1% ao mês — usando a taxa básica de juros como referência — exige algum risco adicional.
“E, nesse caso, geralmente você abre mão do seu conforto em relação aos retornos. Dificilmente o investimento que te paga 2% a 3% ao mês vai garantir que todo mês seja esse valor. Haverá, inclusive, meses em que o retorno será negativo”, explica.
Mas é possível alcançar um retorno muito alto em alguma aplicação tradicional?
Sgavioli pondera que rendimentos altos podem, eventualmente, ser atingidos caso a pessoa tenha uma carteira de investimentos bastante arrojada – ou seja, que tolera maior volatilidade em busca de retornos maiores. Mas nunca será algo garantido mês a mês, e será preciso enfrentar riscos.
“Quando falamos em ações, dependendo, algumas podem te entregar, sim, um retorno de 5% ao mês ou de 80% ao ano. Mas vale lembrar que há volatilidade, ou seja, oscilação do preço da ação no meio do caminho”, diz.
Como saber que é um golpe?
A promessa de rentabilidade alta, garantida e sem risco é sinal claro de que você pode estar lidando com um golpista. A educadora financeira Carol Stange reforça que, nesses casos, não há segredo: em finanças, risco e retorno andam de mãos dadas.
“Ligue o sinal de alerta para qualquer promessa de retornos elevados e garantidos, riscos baixos ou inexistentes e, ainda, em um curto espaço de tempo”, diz.
Nesse contexto, é comum que fraudadores vendam uma imagem de investidores milionários, bem-sucedidos e com supostos métodos de sucesso financeiro comprovados. A dica aqui é não se deixar levar pelas aparências. Percebeu muita ostentação, fotos de viagens e carros de luxo? Desconfie.
No esquema de pirâmide, os participantes são incentivados a comprar um estoque de produtos ou serviço com a promessa de revendê-los e, com isso, ganhar comissões sobre as vendas de novas pessoas recrutadas.
“No entanto, a verdadeira fonte de lucro dessa empresa é o recrutamento de novos membros, e não a venda dos produtos, o que significa que esse lucro é insustentável e a maioria dos participantes acaba perdendo dinheiro”, explica Carol Stange.
Segundo a especialista, a pirâmide financeira é o tipo mais comum de golpe no Brasil. Outro golpe muito aplicado, alerta a educadora, é o das criptomoedas falsas. Nesse tipo de fraude, os golpistas criam falsas moedas (ou tokens) e as promovem como uma oportunidade de investimento absurdamente lucrativa.
Esse tipo de golpe é semelhante ao que atingiu o jogador Gustavo Scarpa. Após promessa de rendimentos irreais, a transferência de dinheiro para supostas compras de criptomoedas pela empresa apresentada pelo amigo Willian Bigode fez R$ 6,3 milhões de seu patrimônio desaparecerem.
Desconfiar das dicas de amigos — por melhor intencionadas que sejam — é, inclusive, outro cuidado que deve ser tomado, alerta Rodrigo Sgavioli, da XP. Isso porque, em alguns casos, a pessoa de confiança que está te apresentando ao suposto negócio também pode estar caindo em uma fraude.
“Durante um, dois anos ou mais anos pode até ser que a chamada pirâmide funcione. Mas ela tende a quebrar. Por isso, o primeiro canal de cuidado está em como essa informação de ganhos rápidos está chegando até você. Se for alguém de confiança, desconfie de que essa pessoa também possa estar caindo no golpe”, alerta.
Como se precaver de golpes, segundo as dicas dos especialistas
Prestar atenção em quem te indica a aplicação — e como te indica
Desconfiar das dicas de amigos — por melhor intencionadas que sejam — é um cuidado que deve ser tomado. Isso porque, em alguns casos, a pessoa de confiança que está te apresentando ao suposto negócio também pode estar caindo em uma fraude.
Identificar se a taxa de rentabilidade é exorbitante — e comparar com a Selic
Desconfie da garantia de altos rendimentos com baixo risco. Um exemplo é o caso do jogador Gustavo Scarpa, que teve lucro prometido de 5% ao mês, o equivalente a quase 80% ao ano — quase seis vezes mais do que a taxa Selic, que é referência para os juros no país.
Desconfiar de rendimento fixo garantido todo mês
A promessa de rentabilidade alta, garantida e sem risco é sinal claro de que você pode estar lidando com um golpista. Nesses casos, não há segredo: em finanças, risco e retorno andam de mãos dadas.
Fugir de aplicações com garantias que não sejam facilmente convertidas em dinheiro
Pedras preciosas ou joias: desconfie se alguém oferecer esse tipo de garantia de pagamento. O ideal é que tenha a quantia em dinheiro e liquidez real para te pagar.
Desconfiar de promessas de exclusividade e ofertas por tempo limitado
Para atrair novos participantes, os fraudadores costumam vender a ideia de que aquele investimento é valioso, exclusivo e uma possibilidade única de conseguir altos retornos. Dizem ainda que chances assim não aparecem todo dia. Desconfie.
Checar se a corretora ou empresa é listada na CVM
Para que um investimento seja comercializado no Brasil, é obrigatório seu registro de distribuição em órgãos como a CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Essa consulta pode ser realizada facilmente pelo site da autarquia.
Conferir os dados de depósito — e não depositar para pessoas físicas
O fraudador pode pedir depósito em conta corrente de pessoa física como forma de garantir a participação do investidor no esquema. Vale lembrar: transferir recursos diretamente para contas pessoais ou para uma conta bancária de uma empresa sem registro na CVM é mais um sinal de que algo não está certo.
G1 Explica: Golpe com criptomoeda
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