Reino desunido, pedidos de independência e família disfuncional: o que está à espera do novo monarca. Charles III faz primeiro discurso como rei
Yui Mok/Pool via REUTERS
Findo o luto público pela morte da rainha Elizabeth II, a monarquia britânica assegura o peso de sua existência a Charles III, conjugando a nova etapa também com o governo conservador recém-iniciado e liderado pela premiê Liz Truss. Passado o momento de união nacional em torno da monarca que permeou a realidade de nove em cada dez britânicos, ambos se encontram diante de um Reino Unido mais dividido, muito por consequência do Brexit mal resolvido.
Pode-se dizer que o vigor dos súditos nas homenagens dos últimos dez dias ratificou o respaldo popular à realeza. Uma pesquisa do YouGov indicou que o apoio à monarquia aumentou cinco pontos em relação à última sondagem, realizada em maio por ocasião do Jubileu de Platina da rainha.
Dois terços dos britânicos (67%) dizem acreditar que o Reino Unido deveria continuar a ter uma monarquia, enquanto 20% prefeririam ter um chefe de Estado eleito e não imposto pela hereditariedade.
Tal como na última pesquisa, o ponto fraco da realeza ainda é a ala jovem dos súditos, embora os eventos dos últimos dias tenham contribuído para aumentar para 47% o prestígio da realeza entre os que têm entre 18 e 24 anos.
Para Charles III, em princípio, as notícias parecem boas. Seu prestígio subiu 16 pontos em relação a maio passado, e ele tem a seu favor iniciar o reinado já como um veterano.
Nos primeiros dias, o rei procurou se aproximar dos súditos, em apertos de mãos e agrados a crianças. Ele percorreu os quatro cantos do reino e falou em galês no Senado do País de Gales, onde também foi vaiado. Os deslizes ficaram por conta da impaciência documentada com seus funcionários durante a assinatura de um documento e com uma caneta que vazou.
Início do reinado de Charles III é marcado por gafes
À sombra da mãe, o novo monarca conheceu os problemas que afligem o país, assim como os dos demais membros que integram a Comunidade das Nações. Os primeiros-ministros de Antígua e Barbados e Bahamas se adiantaram e manifestaram-se favoráveis a referendos que removam o rei da chefia de Estado de seus países.
Os pedidos de independência, assim como de reparações, nos reinos distantes, terão de ser administrados com a própria natureza da família real, que vem se mostrando problemática: por diferentes razões, o irmão Andrew e o filho Harry estão afastados das atividades públicas da Coroa. Para consolidar seu papel como rei, Charles III deve manter o tênue equilíbrio entre tradição e modernidade e, mais ainda, adaptar a notória franqueza à neutralidade que o cargo impõe.
Nesta terça-feira, a rotina se estabelece no país e, aos poucos, dissipará o raro momento de união dos últimos dez dias. Espera-se que os britânicos recuperem também o humor sombrio, alimentado por crise energética, alto custo de vida e ameaça de recessão. Charles navega nessas águas para imprimir a marca de seu reinado.
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