Modelo matemático chamado de TRI avalia a coerência no desempenho do candidato. Aluno ganhará menos pontos se acertar as questões muito difíceis, mas errar justamente as mais fáceis. Duas amigas acertaram, no 1º dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), 70 questões cada. No entanto, quando os boletins oficiais foram divulgados, elas se surpreenderam: haviam tirado notas diferentes! O que explica essa divergência é o modelo matemático pelo qual a avaliação é corrigida: Teoria de Resposta ao Item (TRI).
Definindo de forma simplificada, esse é um método que busca priorizar a coerência no desempenho dos candidatos. A nota não é simplesmente a soma do número absoluto de acertos.
Se alguém acerta as questões mais difíceis, mas erra aquelas consideradas fáceis, provavelmente “chutou” as respostas. Por isso, terá uma nota inferior à de um estudante que acertou as fáceis, mas errou as mais complexas (veja ilustração abaixo).
Dois participantes acertaram 5 respostas. Veja só como aquele que errou justamente as mais fáceis tirou uma nota menor do que o ouro, que errou as difíceis.
Reprodução/Inep
“Isso influencia sua estratégia de prova. É importante dominar o básico. Foque na resolução das questões que você sabe, garanta essas, e deixe as outras para o final”, recomenda Marcus Oliveira, professor da plataforma virtual Descomplica.
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Para que existe a TRI?
A TRI apresenta as seguintes vantagens em relação ao método clássico de correção:
ao detectar os famosos “chutes”, ela premia o aluno que, de fato, se preparou para a prova;
possibilita a comparação entre candidatos que tenham feito diferentes edições do exame;
torna mais improvável que dois concorrentes tirem exatamente a mesma nota, já que o resultado final é divulgado com duas casas decimais (816,48 pontos, por exemplo).
Qual estratégia usar para se dar bem na TRI?
Gastar energia, logo de cara, com aquela pergunta muito longa e complexa pode cansar o aluno e fazer com que ele erre, depois, uma questão considerada simples. No contexto de TRI, a nota será prejudicada.
Anderson Rodrigues, diretor pedagógico do colégio Oficina do Estudante, recomenda que o candidato leia a prova inteira três vezes.
“Na primeira, ele resolverá tudo o que é rápido. Na segunda, partirá para as perguntas em que ficou em dúvida entre duas alternativas. Na terceira, fará as mais longas ou de assuntos que não são tão corriqueiros no Enem, como algoritmos”, diz. “A tendência, assim, é de ser coerente e garantir os acertos das mais fáceis.”
Dicas de resolução:
Na 1ª leitura: resolver todas as questões que considerar fáceis.
Na 2ª leitura: responder às perguntas em que tiver ficado entre duas alternativas.
Na 3ª leitura: fazer as questões mais longas ou sobre assuntos não tão comuns no Enem.
Por que a nota da prova não vai de 0 a 1.000?
No Enem 2021, a nota máxima na prova de Linguagens foi 826,1, e a mínima, 295,2.
Ou seja: quem acertou todas não tirou 1.000, e quem errou 100% das perguntas não ficou com zero. Por quê?
Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que organiza e aplica o Enem, o que determina os “extremos” da nota é o grau de dificuldade das perguntas daquela edição.
“Quando a prova for composta por muitos itens fáceis, o máximo tenderá a ser mais baixo, e quando for formada por itens difíceis, o mínimo tenderá a ser mais alto”, diz o órgão, em documento de orientação aos participantes.
O que é melhor? ‘Chutar’ ou deixar em branco?
De acordo com os professores ouvidos pelo g1, deixar uma questão em branco nunca é a melhor opção.
“Seguindo a lógica de resolver as mais fáceis, se o aluno chutar as outras, não vai ser prejudicado na nota final [já que não será incoerente]. Por outro lado, se não responder, vai tirar a nota mínima naquela pergunta”, diz Rodrigues.
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