Comentarista de arbitragem já recebeu ameaças de morte e viveu machismo de perto enquanto trabalhava em campo. Na Copa do Catar, ela vai participar das transmissões com Tiago Leifert no Globoplay. Fernanda Colombo é comentarista de arbitragem da Copa do Mundo do Catar
Divulgação/TV Globo
Fernanda Colombo já ouviu de um presidente de um clube de futebol que deveria estar posando para revistas masculinas em vez de apitar um jogo. Mesmo com todo machismo, ela não desistiu de trabalhar com futebol.
Ela foi árbitra por 8 anos e hoje é uma das comentaristas da TV Globo. Na Copa do Catar, ela vai participar das transmissões alternativas e diárias feitas por Tiago Leifert, no Globoplay.
Nesta semana, o g1 conta as histórias das profissionais que vão cobrir a Copa do Mundo 2022. Veja, de segunda a sábado, entrevistas com comentaristas e narradoras que você já ouviu ou vai ouvir durante os jogos no Catar.
A catarinense de Criciúma estudava educação física quando foi chamada, aos 18 anos, para um curso de arbitragem. Em três anos, ela já era assistente de jogos da série A.
No episódio mais marcante (de muitos) de machismo, Fernanda foi convocada para atuar como bandeirinha no jogo Atlético-MG e Cruzeiro em 2014.
Após um erro na partida, o diretor de futebol do Cruzeiro falou que ela deveria posar para “Playboy” ao invés de trabalhar com futebol.
Na época, quem foi punida foi a árbitra, que ficou afastada dos campos por duas rodadas e só foi convocada para jogos da série C e D a partir de então.
“O erro da mulher sempre é muito maior do que o erro de um homem. No mesmo final de semana que errei um lance de impedimento, teve um gol impedido que foi validado e que não aconteceu nada com o assistente porque ele era homem”, afirma ao g1.
Fernanda Colombo atuando como bandeirinha em foto de 2013; Hoje ela é comentarista de arbitragem na TV Globo
Lougans Duarte/Diário do Sul
Ela acredita que ainda há quem pense da mesma forma em 2022, mas não verbaliza com a naturalidade e o apoio de quase 10 anos atrás.
“Quando aconteceu comigo, não tinha tanta maturidade assim para lidar com tudo isso. Me falaram assim que se eu processasse, eu nunca mais ia trabalhar na arbitragem, então vão criando barreiras que você vai ficando com medo de fazer uma denúncia, de entrar com processo”.
“Hoje já não existe mais isso hoje. A gente tem liberdade para gente combater esse tipo de fala”, completa.
O fato de ter mais mulheres em posições parecidas trabalhando com futebol hoje em dia também dá força à comentarista.
Tanto que ela celebra o fato de estar ao lado de Renata Mendonça, Renata Silveira e Ana Thaís Matos no time de comentaristas da Globo e do sportv pela 1ª Copa com mulheres na transmissão do grupo.
“É uma vitória muito grande das mulheres e que já deveria ter acontecido há muito tempo”.
Depois de viver tão intensamente agressões verbais em campo, ela decidiu investir no jornalismo esportivo e até escreveu um livro infantil para explicar as regras para pequenos e pequenas.
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Jeito leve e brincalhão
Fernanda Colombo é comentarista de arbitragem e faz sucesso nas redes sociais com conteúdos relacionados ao futebol e à Copa
Reprodução/Instagram/Fernanda Colombo
Antes de começar o mundial, Fernanda bateu 1,1 milhão de seguidores só no Instagram. Ela também é bem presente no TikTok.
“Sempre quis usar as redes sociais para mostrar um outro lado meu que as pessoas não conhecem. Elas nunca esperam que um ex-árbitro seja uma pessoa comum”.
“Elas esperam uma pessoa séria, mas não sou assim, sou extrovertida. É uma maneira de humanizar, por isso gosto de criar esses conteúdos divertidos, porque é muito do que eu sou”.
É com o jeito divertido e leve que a jornalista esportiva conquista tantas pessoas, mas nem sempre foi assim. Enquanto trabalhou como árbitra, nem tinha perfil nas redes sociais.
“Até porque recebia muitos comentários ofensivos, já recebi até ameaça de morte. A torcida vai para um extremo muito grande”.
A animação para o trabalho nas transmissões com Tiago Leifert também vem disso. A proposta é ser descontraída, mesmo comentando um assunto técnico como a arbitragem.
“É uma transmissão mais customizada, mais divertida, diferente do que a gente está acostumado no o formato normal de transmissão. Acredito que vai ser muito legal”.
Como preparação, Fernanda pesquisa bastante sobre os árbitros, mas diz que não tem muito jeito… O trabalho vem ao vivo, com os lances do jogo.
“A gente nunca sabe se um jogo vão ter várias ou nenhuma situação de arbitragem, mas ele também pode ser marcado justamente por ela. O legal é que é sempre imprevisível”.
No começo, Fernanda se frustrou que as críticas não pararam mesmo quando ela foi para a televisão, mas reconhece que a intensidade é bem menor.
“Ainda continua essa pressão, porque não adianta, quando a gente fala de arbitragem, a gente fala de polêmica, a gente fala de um assunto que envolve a emoção do torcedor. Mas a gente aprende e hoje em dia eu nem ligo mais”.
“São atividades diferentes e muito legais que sou apaixonada. O segredo é continuar fazendo o que eu gosto que é estar no futebol. Isso é o principal”.
Altas expectativas
A bandeira do Brasil no céu de Vila Isabel
Marcos Serra Lima/g1
Se os “civis” estão animados com a Copa, imagine quem trabalha com isso. Fernanda acredita que o Brasil tem chances de ganhar o Mundial e adora o clima da competição.
“O povo brasileiro está com esse sentimento meio guardado, querendo sentir tudo isso de novo”, diz ela.
“O pessoal até fala ‘eu não vou me iludir’, mas a gente tem que se iludir, sim! O máximo que vai acontecer não ganhar e beleza estava errado… mas eu acredito”.
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