Economista foi um dos autores da carta aberta em que alerta para risco fiscal e ressalta que não se deve criar ‘problemas maiores’ ao tentar resolver as questões do país. Em entrevista à GloboNews, nesta sexta-feira (18), o ex-presidente do BNDES e um dos criadores do Plano Real Edmar Bacha disse que a saída do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega da equipe de transição foi “um enorme ganho”.
“Cada dia é um dia, vamos ver quais são as próximas declarações que vêm por parte do governo. O objetivo da nossa carta foi justamente fazer o alerta na expectativa de que houvesse uma reação positiva do governo eleito. Já houve uma positiva com a saída do Guido Mantega da equipe de transição. Isso foi um enorme ganho.”
Bacha se refere à carta aberta a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em que ele e os economistas Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central, e Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda, criticam as declarações recentes do presidente eleito sobre responsabilidade fiscal e suas críticas à atuação do mercado financeiro. O texto foi publicado pelo jornal “Folha de S. Paulo” – leia a íntegra da carta.
Bacha, que declarou voto em Lula no segundo turno, afirmou ainda que o próximo governo de Luiz Inácio Lula da Silva não vai ser o “céu de brigadeiro” que ele enfrentou em seus outros dois mandatos.
“Mas o Brasil tem uma oportunidade extraordinária de crescimento, não sei porque colocar o confronto entre o fiscal e social”.
“É preciso ter tranquilidade e confiança e é isso que a gente está pedindo, vamos entrar com pé direito no governo e confiança para o país, mas é preciso controlar o gasto e a dívida”, afirmou.
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Governo não será ‘gastador’
Após carta de economistas, Alckmin diz que Lula tem compromisso com a responsabilidade fiscal
O vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), afirmou nesta quinta-feira (17) em entrevista à jornalista Miriam Leitão, da GloboNews, que o futuro governo terá compromisso com a responsabilidade fiscal – o que inclui fazer uma revisão em todos os gastos de governo previstos atualmente.
Na quarta-feira (16), ele já havia afirmado que o governo Lula não será “gastador”, mas que é preciso garantir a rede de proteção social das famílias mais pobres.
Durante toda a campanha deste ano, Lula questionou por que o governo adota meta fiscal e não cria, por exemplo, meta de crescimento econômico nem meta de desenvolvimento social.
O presidente eleito tem dito que a prioridade do futuro governo será combater a fome no país — no Brasil, mais de 30 milhões de pessoas não têm o que comer.
“Quando você coloca uma coisa chamada teto de gastos, tudo que acontece é você tirar dinheiro da saúde, tirar dinheiro da educação, tirar dinheiro da ciência e tecnologia, tirar dinheiro da cultura”, disse o presidente nesta quinta.
Discurso na COP 27
Além da crítica ao mercado, o presidente eleito Lula afirmou nesta quinta-feira que não adianta falar em responsabilidade fiscal sem antes pensar na responsabilidade social.
A declaração de Lula acontece em meio à articulação do governo eleito com o Congresso Nacional para aprovar uma proposta que, entre outros pontos, autoriza as despesas do Auxílio Brasil a ficarem fora do teto de gastos. A equipe de transição argumenta que a medida é necessária para manter o benefício em R$ 600 mensais e conceder mais R$ 150 por criança de até 6 anos.
“Eu fui fazer um discurso para os deputados e eu fazia o discurso que eu dizia na campanha, sabe? Que não adianta falar em responsabilidade fiscal, a gente tem que começar a pensar em responsabilidade social”, disse o presidente eleito nesta quinta.
Lula se referiu a um discurso feito a políticos aliados em Brasília, no último dia 10, em que questionou: “Por que as pessoas são levadas a sofrerem por conta de garantir a tal da estabilidade fiscal nesse país?”.
Essa declaração gerou reação negativa entre analistas do mercado financeiro. Questionado sobre a repercussão, Lula declarou que “o mercado fica nervoso à toa”.
>>> Veja abaixo a íntegra do discurso de Lula desta quinta-feira:
Na COP 27, Lula defende governança global para cumprimento das decisões e compromissos relacionados ao clima
