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Trem de Aragua, a gangue da Venezuela que ficou conhecida por esquartejar inimigos

Trem de Aragua, a gangue da Venezuela que ficou conhecida por esquartejar inimigos


Crimes com desmembramento são atribuídos a essa organização na Colômbia, Chile, Equador, Peru e Bolívia. Integrantes do ‘Trem de Aragua’ presos em 2021 na cidade colombiana de Cucuta, em foto divulgada pela polícia
Polícia Nacional da Colômbia
Na Colômbia, a polícia vinha investigando como surgiram corpos de quatro pessoas esquartejadas divididos em sacolas e distribuídas por diferentes pontos da capital, Bogotá. Nesta semana, os investigadores atribuíram os crimes a um grupo que tem suas origens na Venezuela, chamado “Tren de Aragua” (trem de Aragua, em português).
A polícia da Colômbia atribui 23 homicídios ao bando. Crimes com desmembramento são atribuídos a essa organização na Colômbia, mas também no Chile, Equador, Peru e Bolívia.
O Trem de Aragua é uma gangue que rapidamente saiu da Venezuela e se espalhou pela América Latina.
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O começo do Trem
A organização surgiu no início dos anos 2000. O grupo inicial era parte de um sindicato de pessoas que trabalhavam no canteiro de obras de uma ferrovia que, no fim, nunca foi concluída no estado de Aragua, no norte da Venezuela.
As primeiras forças de atuação do grupo foram cobrando comissões para executar trabalhos. Da cobrança por melhores condições de emprego na ferrovia, passou para roubo nas rodovias. As atividades foram ficando cada vez mais violentas: extorsões, sequestros, assassinatos por encomenda, tráfico de drogas e de pessoas.
Ronna Rísquez, uma pesquisadora de grupos armados e violência, alerta que o bando não é um mito: “É uma organização poderosa que conseguiu estar presente em vários países da região”.
O escritório é na prisão
Em 2013, Héctor “Niño” Guerrero assumiu o controle do Trem de Aragua. Ele tido como é um dos principais cérebros do grupo. Ele está preso na prisão de Tocorón, onde é o “pran” (líder dos presos).
“Tudo é administrado a partir de Tocorón”, afirma Rísquez, a pesquisadora de grupos armados.
Mapa mostra a localização da região de Aragua, na Venezuela
g1
O criminologista Mario Mármol diz que o Trem de Aragua começou a crescer mesmo quando o grupo passou a ser administrado de dentro da cadeia: “Na prisão, havia as condições que uma quadrilha procura: tomar um território, uma população, armas, impor sua lei e administrar dinheiro”.
A população carcerária, aliás, é a primeira vítima da gangue do Trem de Aragua: ela paga para comer, dormir e poder cumprir audiências do tribunal.
Ronna Rísquez afirma que o tamanho preciso da quadrilha não está claro, mas ela estima que são milhares de integrantes. O criminologista Mármol diz que o grupo tem entre 1.000 e 2.000 membros.
Multidão de venezuelanos que tenta entrar na Colômbia é contida por guardas colombianos em Cúcuta, em foto de 2019
Ferley Ospina/Reuters
Imigração para outros países
Roberto Briceño León, diretor do Observatório Venezuelano da Violência (OVV), afirma que a crise econômica na Venezuela gerou uma perda de oportunidades para o crime. “Parte do negócio foi reduzido porque não havia dinheiro, por exemplo, para pagar um sequestro”, ele diz.
Por isso, muitos integrantes do Trem de Aragua ingressaram no movimento migratório que teve início sete anos atrás.
O primeiro movimento foi em direção às áreas fronteiriças. “Eles perceberam que havia uma oportunidade de ‘negócio’ na migração e transformaram os migrantes venezuelanos em suas vítimas”, diz Rísquez.
A operação também se expandiu para o leste da Venezuela para tentar controlar o tráfico de drogas para o Caribe.
Os primeiros casos de ocorrências criminais em outros países foram relatados entre 2016 e 2018.
Brutalidade para sinalizar que são violentos
Briceño, do Observatório Venezuelano da Violência, diz que o Trem de Aragua é especialmente violento na Colômbia porque, para se impor, quer demonstrar crueldade —segundo ele, os venezuelanos quiseram dar uma amostra de força na Colômbia porque lá há uma “experiência criminosa antiga”.
Em sua expansão, o Trem de Aragua enfrentou gangues rivais na Colômbia, por exemplo, e até dissidentes das Farc presentes na Venezuela.
Segundo o criminologista Mármol, o desmembramento é uma prática comum nas prisões venezuelanas. “Eles têm esse treinamento, esse traço perverso e, quando a situação o justifica, eles o aplicam: desmembrar, decapitar, um assassinato com várias balas. É a sua marca”, diz ele.
Franquia de crimes
Ronna Rísquez diz que o Trem de Aragua não é organizado como o Cartel de Sinaloa, por exemplo, mas consegue fazer operações de tráfico de drogas, extorsão e tráfico de pessoas.
Briceño afirma que os venezuelanos não são uma organização vertical: “Eles trabalham em alianças, como franquias: usam o emblema, o nome, o terror que inspiram e recrutam pessoas localmente”, e recebem apoio logístico da Venezuela.
“É um modelo que eles copiam de algumas facções no Brasil: garantem fidelidade, apoio e ao mesmo tempo recebem tributos”, afirma ele.

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